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ELIANE CANTANHÊDE
O Brasil e a guerra
BRASÍLIA - Para a opinião pública, a condenação do Brasil, do governo e
particularmente de Lula à guerra dos
EUA contra o Iraque é ótima. Para
gente experiente do empresariado e
do próprio Itamaraty, nem tanto.
Eles acham que o país não deveria
mergulhar tão fundo na aliança com
França, Alemanha e Rússia contra os
EUA. Bastava reprovar e ponto. Para
evitar retaliações.
Neste caso, porém, Lula não foi
nem quis ser pragmático, ortodoxo.
Seguiu o seu íntimo, a opinião pública e a velha posição petista contra a
arrogância norte-americana. Alguém consegue imaginar o emocional Lula em cima do muro numa guerra tão escandalosa?
É claro que posições ousadas correspondem a risco. Confrontar a maior
potência já é duro. Num momento de
retração de capitais, duríssimo. O risco, porém, foi calculado.
O Brasil se coloca ao lado da União
Européia contra o tal mundo unipolar dos EUA. Ganha mais status no
complexo jogo internacional como
um dos líderes de países emergentes e
como interlocutor dos desenvolvidos.
E nem por isso deve ficar à míngua
na pauta comercial, por exemplo, dos
EUA. O Brasil precisa dos EUA, mas
eles também precisam do Brasil.
O preço que os EUA devem pagar
por entrar na contramão da história,
da ONU, da maioria dos governos e
da opinião pública internacional
ainda não está bem avaliado. Mas
pequeno não será. Porque a guerra
passa, mas o desgaste internacional e
a disputa com a União Européia ficam. Os EUA vão jogar tudo na Alca
para fazer frente à UE. E, sem o Brasil, não há Alca.
Enfim, Lula apostou alto ao se articular com Chirac e Schröder e repudiar tão veementemente a guerra de
Bush. Se o risco de errar sempre existe, o de acertar parece bem maior.
Até porque quem mais perde politicamente com essa guerra são os EUA.
Além, é óbvio, dos milhões de pessoas
bombardeadas por eles.
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