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CLÓVIS ROSSI
Não é guerra, é massacre
SÃO PAULO - Já é lugar comum dizer que, na guerra, a primeira vítima é a
verdade.
Mas o ataque norte-americano ao Iraque permitiu, talvez pela primeira
vez na história, que se comprovasse, ao vivo e em cores, no mundo todo,
como um presidente norte-americano mente descaradamente.
O mentiroso chama-se George Walker Bush. A mentira: dizer que que o
objetivo do ataque era livrar "o mundo de um grave perigo".
O "grave perigo" foi exibido pela
TV: soldados iraquianos em penca
rendendo-se sem disparar um mísero
tiro; patética defesa antiaérea, que
nem cócegas faz em um inimigo que
dispara grande parte de suas bombas
e mísseis de muito longe; pouco ou
nenhum uso de armas convencionais, quanto mais de armas químicas
ou biológicas.
O que está havendo no Iraque não é
uma guerra nem mesmo um ataque.
É um massacre. É verdade que seres
humanos, mortos ou vivos, pouco frequentam o noticiário sobre a guerra,
mas o editorial de ontem desta Folha
foi ao ponto ao dizer: "Por maiores
que tenham sido os avanços da tecnologia bélica e por mais que tenha
crescido a precisão das bombas e dos
mísseis, o ser humano permanece
suscetível a explosões de grande
magnitude. É preciso desprezar a vida humana para lançar um ataque
como o de ontem (sexta-feira) sobre
uma cidade povoada por milhões de
pessoas, a esmagadora maioria deles
civis tão inocentes quanto os norte-americanos mortos nos atentados
terroristas de 11 de setembro".
A desumanização do mundo sob o
império da superpotência ensandecida aparece também nas comemorações, em meio à guerra, pela alta da
Bolsa de Nova York.
Seria ingênua tolice esperar que o
capitalismo e os capitalistas trocassem o lucro pelo luto, ainda mais se
os mortos são "estrangeiros".
Mas, pelo menos, em respeito aos
mortos norte-americanos, poderiam
evitar a cerimônia de encerramento
do pregão em que um cidadão com
sorriso apalermado bate o martelo.
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