São Paulo, domingo, 23 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Oposição ética; sem Plano B
JORGE BORNHAUSEN
Não se trata de montagem fácil, mas de arquitetura política engenhosa, que dá no quadro atual a que estamos assistindo: a principal e mais violenta força de contestação do governo está dentro do próprio governo. O que pode lhes ser fatal, como ouvi no fim de semana de um velho amigo em Santa Catarina: "Essa história de curar o mal com os próprios venenos que o provocam é para a homeopatia. A política é alopata, não vale o "similia similibus curantur"". O nosso modelo de oposição quer evitar esse quadro espúrio, estabelecer linhas de comportamento e unir a maioria da sociedade sem a exploração cavilosa de contradições que, no fundo, não desafiam apenas nossos eventuais adversários, mas o conjunto da sociedade brasileira. De tal forma que, quando dissermos, por exemplo, "vamos fazer reformas", faremos reformas. Saberemos o que desejamos reformar, sem medos ou cir- cunlóquios. Conjugaremos o verbo e a frase terá sujeito e predicado. Bem diferente do que está acontecendo neste momento no Brasil. Quando se fala de reformas, parece um código, significa a disposição de não as fazer, numa versão do truísmo conservador de que se deve mudar para que tudo fique como está. No capítulo da previdência do serviço público, o PFL quer firmar o princípio de que nada se deve fazer que represente humilhação ou desqualificação do funcionário. E muito menos que se desconheça o direito adquirido. Queremos racionalidade econômica -que em matéria de previdência é exercitada pela ciência atuarial- e sensibilidade histórica e social para não humilhar essa camada tão representativa e importante da classe média brasileira -como está demonstrando a atuação do deputado Roberto Brant, que é um dos coordenadores das posições do PFL sobre Previdência. Um partido que chegue ao governo deve ter um plano, e não dois. Não teremos um Plano A para ganhar as eleições -como alguns dos seus próprios adeptos consideram ter sido o comportamento dos que constituem hoje o governo Lula- e um Plano B para governar. Com a agravante de que o Plano B, como se anuncia, somente será posto em prática quando "tudo dominado"... Por acaso, o funk também não ajudou a engrossar a onda vermelha de outubro de 2002? O funk e os chamados movimentos éticos certamente apóiam o Plano B. Jorge Bornhausen, 65, senador pelo PFL de Santa Catarina, é presidente nacional do partido. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Luiz Antonio Guimarães Marrey: O Estado e o crime organizado Índice |
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