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CHINA E BRASIL
O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu de US$ 390 bilhões em 1992 para US$ 500 bilhões
em 2003. Já o PIB da China, país que
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ora visita, saltou, no mesmo período,
de US$ 280 bilhões para US$ 1,4 trilhão. A despeito das enormes diferenças na forma de organização das
duas sociedades, como poderiam ser
explicadas trajetórias tão distintas?
Uma economia que era menor do
que a brasileira passou a ser quase o
triplo desta em uma década!
A estratégia de inserção internacional adotada pelos dois países pode
auxiliar na compreensão dessas trajetórias. A China preparou e conduziu sua integração global pela via do
comércio e pela atração de investimento estrangeiro direto destinado a
setores com maiores taxas de expansão nas transações internacionais.
Dessa forma, o gigante asiático foi
capaz de aproveitar a onda de expansão das empresas transnacionais,
sobretudo das americanas, mas também das japonesas e européias, que
deslocaram a produção de peças e
componentes para economias com
menor custo de mão-de-obra.
As estratégias de atração de investimento estrangeiro incluem: a) dois
regimes aduaneiros -um mais elevado para as importações destinadas
ao mercado interno, outro menor
para as importações de bens a serem
transformados e destinados a mercado externo; b) parcerias entre empresas estrangeiras e estatais para transferência de tecnologia; c) regras para
as empresas transnacionais gerarem
os recursos em moeda estrangeira
que pretendem remeter às matrizes.
Essa política esteve associada também à garantia estatal de taxas de
câmbio reais competitivas e estáveis
mediante intervenções no mercado
cambial e controles rigorosos sobre
a conta de capital. Como resultado, a
participação das exportações no PIB
chinês pulou de apenas 6% em 1980
para 23% em 2000. O fluxo médio de
investimento estrangeiro direto recebido pela economia chinesa, de US$
25,5 bilhões entre 1991 e 1996, saltou
para US$ 44,7 bilhões entre 1997 e
2002. As reservas internacionais alcançaram US$ 440 bilhões no final
de 2003.
A estratégia brasileira foi bem outra. O país optou pela abertura da
conta de capital, vale dizer, a integração aos fluxos financeiros internacionais. A entrada de investimento
estrangeiro direto foi realizada sobretudo mediante fusões e aquisições, muitas das quais por meio de
privatizações, que não geraram aumento relevante de capacidade produtiva e, ademais, concentraram-se
em setores que não trazem divisas
-como serviços públicos e financeiros. O resultado é sobejamente conhecido: elevado endividamento externo, ameaça de crise cambial recorrente, elevadas taxas de juros, baixas
taxas de crescimento, alto nível de
desemprego e queda do investimento público e privado.
A viagem do presidente Lula é bastante oportuna. Além da oportunidade de observar "in loco" a experiência chinesa, são promissoras as perspectivas de intercâmbio. Acordos bilaterais podem aprofundar o comércio, os investimentos e a transferência de tecnologia entre os dois países.
As exportações brasileiras para a
China saltaram de US$ 2,3 bilhões
em 2000 para US$ 4,5 bilhões em
2003, mas ainda representam apenas
1% das importações chinesas. A
maior aproximação entre os dois
países pode representar também o
fortalecimento das posições defendidas pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC). Trata-se,
portanto, em inúmeros sentidos, de
uma visita de alta relevância.
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