|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Frescura
BRUXELAS - Os últimos soldados espanhóis deixaram o Iraque na sexta-feira, rumo ao Kuait. Até amanhã,
estarão todos na Espanha.
É, para os espanhóis, a grande notícia do fim de semana, certo? Absolutamente errado. A grande notícia do
fim de semana, dos últimos dias e
também dos próximos é o casamento
do príncipe Felipe com a jornalista
Letizia Ortiz.
Não se fala de outra coisa na TV espanhola, na mídia inteira, incluídos
os jornais ditos sérios.
A Espanha parece ter ficado, nesses
dias, em alguma outra dimensão,
mais fresca, no bom e no mau sentido
da palavra. A dimensão, vá lá o chavão, de conto de fadas.
Sei que muita gente que se crê "do
bem" torcerá o nariz, dirá que é um
desperdício de dinheiro, que isso é
coisa de ricos. Talvez seja até verdade, mas será de todo modo apenas
parte da verdade.
Por mais que a boda real tenha custado algo em torno de 20 milhões de euros
(ou perto de R$ 80 milhões), não
houve quase polêmica. Nem mesmo
um velho ex-comunista como o sindicalista Cándido Mendez, das outrora combativas Comisiones Obreras, recusou-se a estar entre os cerca
de 1.500 convidados que lotaram a
belíssima catedral de La Almudena,
bem ao lado do Palácio Real, no centro de uma Madri em que "diluviaba", como dizia a TV, em alusão à
chuva que não parava de cair.
Sei que há inúmeras outras maneiras de fugir para outras dimensões
que façam olvidar cotidianos eventualmente duros.
Mas a família real espanhola acaba fazendo parte do cotidiano de
seus súditos. Não termina na Quarta-Feira de Cinzas, ao contrário de
tantos outros contos de fadas em países que são mais vítimas que agentes
da sua própria história.
PS - Como está chegando o momento de voltar ao Brasil, preciso de
férias. Para voltar a encarar um país
como o Brasil, necessitaria de uns 15
anos de preparação. Mas só consegui
convencer a Folha a me conceder 15
dias. Azar do leitor.
Texto Anterior: Editoriais: O RISCO DE FRAUDE Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz: Pouso forçado Índice
|