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CLAUDIA ANTUNES
Os carbonários
RIO DE JANEIRO - Alguém ganhou muito dinheiro com a alta do dólar
que ocorreu depois que o BC deu um
breque no seu ritmo já quelônico de
redução da taxa de juros, e certamente não foi a maioria de nós. O
maior ganhador tampouco deve ter
sido o histriônico deputado Valdemar Costa Neto, alçado de maneira
patética ao posto de agitador-mor
quando acusou Henrique Meirelles
de sabotar a economia nacional.
Os minutos de notoriedade que
Costa Neto tem buscado devem provocar ataques ocultos de riso nos verdadeiros carbonários, todos senhores
muito sérios e responsáveis, alinhados com o pensamento de uma irmandade onipresente que espalha a
imobilidade e o medo.
Veja-se, por exemplo, o diretor do
Banco Mundial para o Brasil, Vinod
Thomas. Em palestra no Rio, na semana passada, ele colocou a platéia
diante do velho enigma do ovo e da
galinha ao afirmar que é impossível
que o país cresça mais do que parcos
3% ao ano sem distribuir renda dada
a enorme parcela da população excluída do consumo.
Como sem crescer não se criam empregos nem se gera mais renda e, naturalmente, taxar mais os ricos está
fora de questão, Thomas sugeriu que
a distribuição perfeita é aquela feita
por meio dos programas de transferência direta, como o Bolsa-Família.
Mas não explicou de onde os governos, já arrochados, devem tirar o dinheiro para atender ao número crescente de necessitados.
No mesmo evento, o ex-presidente
do BC Affonso Celso Pastore levou
um roteiro para concorrer com a série "Pânico". Disse que a atual meta
de superávit, de 4,25%, é insuficiente,
e sugeriu que ela suba para até, quem
sabe, 6%. Quanto aos juros, que aumentam a dívida, deveriam ficar na
mesma. A fim de que se inicie um
"círculo virtuoso" na economia, concluiu Pastore, o governo deve provar
que seu compromisso com a austeridade "é mais firme que o atual".
Perto desse tipo de terrorismo verbal, João Pedro Stedile é fichinha.
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