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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Brasil e China: um contraste a ser analisado
A missão brasileira chega à China
no momento em que esse país
tenciona desacelerar o seu crescimento. Terá sido um erro de "timing" para
as pretensões brasileiras exportar e
vender mais para o "gigante acordado"? Tudo depende de como será feita
a desaceleração.
A China vai reduzir a atual taxa de
crescimento de 9,7% ao ano para 2%
ou 3% ou descerá lentamente para taxas de 7% ou 8%?
No primeiro caso, o Brasil teria perdido sua grande oportunidade de comercializar com o continente chinês.
Mais grave, junto com o Brasil teríamos uma derrocada do planeta Terra,
uma vez que a China responde, atualmente, por mais de um terço do crescimento mundial ("The Great Fall of
China?", "The Economist", 15/5).
No segundo caso, o gigante econômico continuaria sendo um grande
celeiro para a venda de nossas commodities e até mesmo para alguns manufaturados ou semimanufaturados.
O que acontecerá? A China está procurando usar os instrumentos convencionais para desaquecer a sua economia, a saber: aumento da taxa de juros, restrição de crédito, esfriamento
da demanda e cortes de obras públicas.
Os analistas consideram que tais
medidas serão ineficazes no caso chinês, porque a grande maioria de empresas estatais independe de crédito
de mercado -recebem recursos do
governo- e a demanda dos consumidores ainda é muito baixa, não havendo espaço para cortar mais.
Resta, assim, a contração das obras
do governo central e das províncias.
Mas, mesmo aí, os governantes não
vão paralisar os grandes projetos que
estão em andamento. Os cortes deverão incidir em obras não iniciadas, o
que terá um efeito lento na pretendida
desaceleração.
Como se vê, a economia chinesa tem
sérias dificuldades para parar de crescer, enquanto a nossa tem dificuldades para voltar a crescer. Estaria aí
uma complementaridade?
Na China, a hipótese mais provável é
a de um pouso suave. Nesse caso, haveria queda no preço das commodities que exportamos. Mas o volume
continuaria grande, podendo até aumentar.
O importante é consolidarmos uma
posição de exportadores de grande
porte para China. Pode-se perder um
pouco no preço hoje para conquistar
um grande mercado amanhã e fazer
subir os preços quando a economia
chinesa voltar a crescer no ritmo das
últimas décadas.
Ademais, podemos minimizar as
perdas da queda dos preços se fizermos a nossa própria lição de casa, barateando tudo o que onera demais a
nossa produção, começando pela excessiva carga tributária, passando pela
grossa burocracia e pelos portos atravancados e terminando pela rigidez de
nosso quadro legal em vários campos,
dentre eles, o ambiente, a regulação e a
contratação do trabalho.
Oxalá a missão brasileira volte da
China com boas notícias, ainda que
sejam de médio e longo prazo.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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