|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Cães e cia.
SÃO PAULO - Se gosta de cachorro pode. Também pode perguntar
se gosta de rock'n roll, de poesia ou
de boxe. Isso pode. O que não pode
é promoção. Se ela falar "vou mudar
o trânsito" -isso não pode.
O trecho reproduz o pensamento
da promotora Patrícia Aude, registrado em entrevista à repórter Lilian Christofoletti. A doutora se referia à entrevista da Folha com
Marta Suplicy, pela qual Aude e
mais três colegas acusaram o jornal
de fazer propaganda fora do tempo.
Não sei se brincar de Teletubbies
pode, mas, depois de conhecer tais
idéias, tive o impulso de pedir a Elio
Gaspari o telefone de Eremildo. O
Idiota não podia atender. Esforçava-se para entender a sentença do
juiz Francisco Carlos Shintate.
Ironia não pode? Quem disse?
Não deixa também de ser irônico
que a promotora, na defesa de seu
ponto, acabe mimetizando, sem se
dar conta, a tendência da mídia e da
sociedade atual, que é a de entupir
o leitor com frivolidades e "faits divers" da intimidade e pasteurizar a
política, que ninguém mais tolera.
Falemos agora sério. Quem melhor resumiu o equívoco dessa turma foi Dora Kramer, em sua coluna
no "Estadão", na quinta: "Escutaram o barulho do debate sobre o
ativismo cívico que sacode os tribunais (...) e encontraram a pior maneira de embarcar na onda do rigor". Acabaram patrocinando "não
mais um caso de excesso de zelo,
mas de desvio, ou de zelo à deriva".
Ou seja: as boas intenções dos luminares pariram uma batatada.
A um jornalista -e não só- é
sempre útil se perguntar "para que
serve a imprensa?" ou "a quem ela
serve?". A discussão pode ser boa.
Da mesma forma: para que serve
a Justiça Eleitoral? E a quem?
Entre nós, tem servido para proteger os políticos, e não os direitos
do eleitor, além de ser um instrumento de inibição -quando não de
censura- do debate, em prejuízo
do público. Num país em que as
idéias circulam miseravelmente, a
Justiça Eleitoral, volúvel e de vocação tutelar, contribui para produzir
monstros. Às vezes até cachorros.
Texto Anterior: Editoriais: Incentivo diplomático Próximo Texto: Brasília- Valdo Cruz: A eleição da inflação?! Índice
|