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PLÍNIO FRAGA
Parodoxo e capitulação
RIO DE JANEIRO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
dispensou sua excelência, o leitor,
de ir adiante nas páginas deste caderno: "Vou dizer uma coisa que
talvez seja quase impensável para
mim mesmo há muito tempo: eu
não agüento mais ler a parte política dos jornais. Tudo são fatos banais ou fatos policiais", disse em entrevista ontem nesta Folha.
Se alguém precisava de atestado
de liberação do enfadonho exercício de acompanhar o noticiário político, nada melhor que seja assinado pelo autor de "A Arte da Política", sociólogo estudado mundialmente pela teoria da dependência.
Em princípio, não há vinculação
entre a ojeriza política de FHC com
o despojamento dos privilégios do
jornalismo na era da internet -que
permitiu que a seleção e ordenação
das informações deixasse ser competência exclusiva dos jornalistas.
"Começo a ler e pulo. Porque não
vai me acrescentar nada. Quero entender mais os quadros. A parte
econômica é mais interessante, a
de discussão educacional, a de meio
ambiente", declarou Fernando
Henrique a Roberto Dias.
Não são poucos os leitores que
comungam dessas idéias do ex-presidente. Mas sua reflexão pairaria
no vazio se os leitores não fossem
encontrá-la nesse espaço deveras
aborrecedor. É um paradoxo.
As primárias norte-americanas
mostraram que discursos e personagens novos podem revitalizar a
democracia, com reflexos positivos
sobre a cobertura jornalística.
A concorrência desenfreada dos
novos meios, em vez de trazer multiplicidade, revela-se monótona para os jornais, com a uniformização
das abordagens e do elogio ao banal. Os jornais sofrem com a solidificação da pasmaceira até então
majoritariamente digital, sem se
beneficiar da variedade de atores
espalhados pela rede. E isso não é
paradoxo, mas capitulação.
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