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Desvio de função
Governo planeja usar recursos do FGTS para financiar o BNDES, à custa de setores carentes, como o de saneamento básico
DE ACORDO com o balanço patrimonial, divulgado pela Caixa Econômica Federal, o
FGTS (Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço) possuía ativos de R$ 198 bilhões em dezembro de 2007. Estavam alocados
em operações de crédito R$ 78,7
bilhões; em títulos da dívida pública, R$ 86,3 bilhões.
De um lado, esse elevado volume de recursos disponíveis aplicados à taxa Selic amplia a rentabilidade do fundo. Por outro, revela dificuldades de efetuar os
desembolsos em áreas predeterminadas pela legislação: saneamento básico, infra-estrutura
urbana e habitação popular.
Diante de graves problemas
gerenciais (alta perda na distribuição de água e indigência contábil, por exemplo), elevado endividamento das empresas de saneamento e limites para a contração de empréstimos por Estados e municípios, o FGTS não
consegue executar seu orçamento. Os recursos que "sobram" começam a ser disputados.
Uma alternativa delineada para facilitar os desembolsos foi a
formatação do FI-FGTS. Até
80% do patrimônio líquido do
FGTS poderia ser deslocado para
um fundo de investimento em
infra-estrutura. Agora o governo
planeja utilizar até R$ 10 bilhões
desses recursos destinados ao
FI-FGTS para reforçar o orçamento do BNDES.
O banco enfrenta uma demanda por empréstimos muito acima de sua capacidade operacional. Independentemente da engenharia financeira da operação,
ainda em estudo, o repasse ao
banco de fomento não configura
a melhor solução para o problema dos recursos disponíveis no
FGTS. Desviar recursos do fundo significaria prejudicar setores
carentes e prioritários, que dificilmente encontrarão outra fonte de financiamento.
O mais correto seria enfrentar
as questões que inviabilizam a
expansão dos empréstimos com
recursos do FGTS. Isso exige a
reestruturação patrimonial das
companhias de água, esgoto e habitação popular, bem como melhorias gerenciais de monta; exige, também, a revisão, mediante
compromissos firmes de modernização da governança corporativa, dos limites de endividamento dessas empresas, a fim de que
retomem os investimentos.
Como os recursos do FGTS são
federais, e as empresas executoras, estaduais ou municipais, o
equacionamento desse imbróglio deve passar por uma negociação do Ministério das Cidades
com governadores e prefeitos.
Diante dos baixos rendimentos de boa parte da população, o
que restringe a capacidade de pagamento dos mutuários, haveria
ainda a necessidade de repensar
os mecanismos de subsídios para
a construção de habitação popular. Uma possibilidade seria integrar o uso dos recursos previstos
(e não gastos) no Fundo Nacional de Habitação de Interesse
Social com os desembolsos do
FGTS destinados a populações
de baixa renda.
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