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ELIANE CANTANHÊDE
Erros e acertos
BRASÍLIA - Não foi nenhum acusado, advogado ou curioso quem
disse que há "erros" no inquérito do
delegado Protógenes Queiroz sobre
o trio Daniel Dantas, Naji Nahas e
Celso Pitta. Foi, nada mais nada
menos, o ministro da Justiça e chefe da PF, Tarso Genro.
Antes, os erros eram só de procedimento, a tal "espetacularização"
de prender os suspeitos com câmeras de TV adentrando a casa alheia e
com o uso de algemas de pobre em
gente tão rica. Agora, passaram a
ser de conteúdo: a fundamentação
da prisão temporária (como Gilmar
Mendes já dizia), a referência leviana a pessoas inocentes e os rasgos
messiânicos injustificáveis em peças policiais (como apontou o repórter Ranier Bragon). Sem contar
as ações escondidas da cúpula da
PF e a aliança com a Abin.
Segundo Tarso, o substituto de
Protógenes, Ricardo Saadi, é de "altíssimo nível" e o inquérito incorporará uma profusão de adjetivos:
será "mais profundo", "mais técnico", "mais sofisticado", "com mais
qualidade" e "menos midiático".
O que, portanto, significa retirar
trechos como o que trata uma boa
jornalista como "integrante de organização criminosa", por ter dado
o chamado "furo de reportagem",
ou o que faz referência a um rapaz
de Niterói como agente infiltrado
de Daniel Dantas no Exército.
Ele fez engenharia da computação no Instituto Militar de Engenharia e se tornou tenente em
2007, mas desistiu da carreira. O
Exército exigiu ressarcimento, e ele
entrou na Justiça. Trata-se do primeiro espião que decidiu processar
quem deveria espionar.
O grande escândalo poderia descambar para uma comédia de quinta, não fosse o principal: à parte as
idiossincrasias e os erros de Protógenes, a essência do inquérito que
ele comandou é consistente -ou
"robusta", como admitiu Tarso. E,
assim, a investigação e suas conseqüências têm de ir adiante, porque
a desmoralização não seria só de
um delegado; seria geral.
elianec@uol.com.br
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