|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Pega ladrão!
SÃO PAULO - A demanda por moralidade na política e maior transparência no processo eleitoral ganhou um aliado polêmico com a divulgação da "lista dos 15" pela AMB
(Associação dos Magistrados Brasileiros). Os fichas-sujas viraram um
assunto. Essa onda moralizadora
está ligada a um desejo mais amplo
de "passar o país a limpo", como
mostram as reações ao caso Dantas.
Ninguém de boa-fé deixará de reconhecer méritos nesse anseio.
Mas ninguém escaldado deixará de
perceber também que esse filme é
velho e suas motivações são mais
ambíguas do que podem parecer.
Sabemos todos que notórios ladrões fazem da política a sua profissão. Que usam a imunidade do cargo como biombo para a impunidade
e usurpam o mandato popular,
transformando-o em ferramenta
de seu business ou gatunagem.
A generalização dessa percepção,
para a qual contribuiu o realismo
quase sem nenhum pudor de PSDB
e PT na última década, tem alimentado uma certa ojeriza à política.
Desenvolveu também em muitos
progressistas de antigamente uma
espécie de cinismo pragmático.
A atitude do eleitor desiludido
diante dos candidatos parece oscilar entre dois pólos complementares: 1. O que ele quer arrancar de
mim? 2. O que eu posso tirar dele?
(O leitor de boa alma faça a gentileza de não vestir a carapuça.)
Nesse ambiente, a faxina eleitoral
proposta pela AMB corre o sério
risco de se converter numa caça às
bruxas, manchando a democracia
em nome da "higienização" do voto.
Entre o critério elástico adotado
pela lista dos juízes, que junta candidatos em situações legais muito
distintas e passados muito diversos,
e a atual legislação eleitoral, que na
prática premia os larápios e pune a
sociedade, seria o caso de buscar
um meio-termo, menos estridente,
mas também menos concessivo, capaz de separar o joio do trigo.
É essa, aliás, a posição esclarecida
do presidente do TSE, ministro
Carlos Ayres Britto, infelizmente
minoritária no âmbito daquele tribunal que decide as coisas.
Texto Anterior: Editoriais: A lista da AMB
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Erros e acertos Índice
|