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ELIANE CANTANHÊDE
Lula em Caracas
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai chegar num
bom momento a Caracas, amanhã à
noite, para uma visita de menos de
24 horas concentrada na terça-feira.
O país do presidente Hugo Chávez
andava até meio calmo, depois de
meses de greves, tumultos de rua e
quedas do PIB. Mas volta a esquentar justamente agora.
Depois de recolher -ou dizer que
recolheu- 3,2 milhões de assinaturas populares pedindo um referendo
para abreviar o mandato de Chávez,
a poderosa e difusa oposição ao presidente aguarda para amanhã a decisão da Suprema Corte de Justiça sobre o pedido.
Como a tendência da Corte é acatar os argumentos do governo de que
as assinaturas foram fraudadas e o
processo de coleta foi ilegítimo, Caracas deve amanhecer na terça-feira
em pé de guerra. Mais uma vez.
Enquanto Lula estiver com Chávez
e uma penca de ministros depositando flores no túmulo do libertador Simón Bolívar, a expectativa é que, nas
ruas, milhares de venezuelanos estarão gritando "fora Chávez" e outros
milhares devolvendo com "abaixo a
oposição". A Venezuela, como se sabe, está dividida ao meio.
Quando eleito pela primeira vez,
em dezembro de 1998, com 56% dos
votos, Chávez previa que o continente viveria manifestações populares de
grandes proporções contra o neoliberalismo. O que se viu, porém, foram
manifestações-monstro contra o estilo Chávez, sua aproximação de Fidel
Castro, seus programas de esquerda,
sua política de abrir excessivas e simultâneas frentes de confronto.
De certa forma, o venezuelano é um
bom protótipo a ser observado. Antes, por brasileiros, argentinos, chilenos e por aí afora. Agora, por Lula e
pelos presidentes que tentam caminhos alternativos ao neoliberalismo
que varreu o continente na década
de 90 e deixa rastros preocupantes.
Chávez tem muito de bom e muito
de ruim. Lula pode captar o que ele
prega de bom, mas tem obrigação de
afastar os fantasmas do que ele exercita de ruim. Eis o segredo.
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