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CLÓVIS ROSSI
A última utopia?
SÃO PAULO - Darc Antônio da Luz Costa, vice-presidente do BNDES,
apresenta uma instigante definição
de capitalismo: "Capitalismo é sonho
mais crédito".
Se fosse só isso, o capitalismo seria
de fato beleza pura.
Pois foi a partir dessa idéia-força
que o BNDES se tornou a usina e a
fonte de crédito, como é óbvio, para
que o governo Luiz Inácio Lula da
Silva tente o que talvez seja a última
utopia disponível no mercado: construir o quarto maior bloco econômico
do planeta (a América do Sul).
As idéias que dão impulso ao projeto estão expostas mais adiante, neste
mesmo caderno. Confesso que, após
anos e anos de retórica integracionista jamais levada à prática, sou cético
a respeito, por mais que torça para
que dê certo.
Ceticismo à parte, a idéia não é movida apenas pela utopia. Darc Costa
lembra que "a América do Sul é auto-suficiente em praticamente tudo".
Lembra também que o Brasil é um
pólo econômico importante, por muito que a baixa auto-estima de sua
gente faça esquecer dados relevantes.
Exemplo: é um mercado para fraldas
maior do que o de vários países europeus somados.
Exemplo dois, que só agora descobri: a brasileiríssima marca Skol é a
terceira cerveja mais vendida do
mundo, atrás apenas de duas norte-americanas.
Não se trata de ufanismo verde-e-amarelo, o único pecado de que não
posso ser acusado. São fatos.
Fatos que embalam o sonho de
Darc Costa. "No século 19, os Estados
Unidos acreditaram que era possível
construir um país unindo dois oceanos." Por que o Brasil não pode sonhar sonho parecido?
Já sei que há várias respostas sólidas para desmanchar a utopia. Mas,
como dizia Calderón de la Barca, "la
vida es sueño, y los sueños sueños
son". Melhor tentar pô-los em prática
do que apenas render-se a uma realidade nada poética.
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