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CARLOS HEITOR CONY
Cara inchada
RIO DE JANEIRO - Bateu fundo
no orgulho nacional a derrota do
Brasil frente a Argentina por três a
zero -uma goleada light, mas que
não deixa de ser uma goleada. Pior
mesmo é que a nossa seleção, na
opinião de Maradona e na opinião
de muitos interessados (que somos
todos nós), nunca se apresentou tão
desfalcada de craques, sem falar na
ausência dos supercraques que o
mundo se habituou a admirar com a
camisa amarela.
Apelamos então para o banal ressentimento, atribuindo a derrota à
seleção de Dunga. Não há a seleção
de Dunga; há a seleção do Brasil.
Quem perdeu não foi o técnico, foi o
país pentacampeão do mundo. O
resto é chorar pelo leite derramado.
Temos bons jogadores, alguns
chegam a merecer a condição de
craques, mas falta atualmente o supercraque. A geração de Romário,
Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho
Gaúcho, Kaká está fatigada e não teve substitutos à altura. Isso sem falar no passado recente, em Pelé,
Garrincha, Tostão, Didi, Rivelino,
Gerson, Zico, Júnior, Zagallo,
Falcão.
Para todos os efeitos, o Brasil tem
uma boa estrutura de craques que
dá para formar um excelente time.
No momento, falta-lhe aquilo que o
Ezra Pound chamava de "punti luminosi" -os pontos luminosos
que formam as obras de arte e os
campeões.
Na estrutura do futebol moderno, é necessário que haja um supercraque no meio do campo e outro lá
na frente, para finalizar. Com dois
gigantes em cena, apoiados pelo entrosamento de bons jogadores, cada
qual em sua função dentro do conjunto, teremos realmente um chassi de campeão capaz de trazer para
o Brasil o hexacampeonato.
É evidente que três em vez de
dois supercraques seria melhor.
Mas, sem pelo menos esses dois, o
jeito é nos habituarmos com a cara
inchada.
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