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PRIMEIRAS ESCOLHAS
O Partido dos Trabalhadores
logrou conquistar uma certa
trégua na transição. Dos funcionários do Fundo Monetário Internacional que estiveram no país aos setores
da política derrotados com a eleição
de Luiz Inácio Lula da Silva, passando pelos sempre nervosos agentes
do mercado financeiro, prevalece um
tom de relativa paciência no ar.
Não custa lembrar que, poucos
dias antes do segundo turno, chegaram a circular análises prevendo que,
se Lula não anunciasse os nomes-chave de sua equipe econômica tão
logo fosse eleito, o circuito financeiro seria lançado em nova e aguda crise. Entretanto quase um mês já se
passou desde o 27 de outubro e ainda
não foram anunciados os nomes que
ocuparão o primeiro escalão do governo Lula. Foi dito apenas que o ex-prefeito de Ribeirão Preto Antônio
Palocci Filho estará entre eles. Mas o
cargo exato que ocupará no Executivo ainda não foi divulgado.
Para muitos, é como se o clima festivo de uma campanha vitoriosa ainda estivesse prevalecendo sobre tarefas menos "populares" de governo,
tais como a escolha de que grupos
ascenderão ao ministério, a decisão
acerca do salário mínimo, o esboço
de uma agenda legislativa etc. O mote "paz e amor", nessa visão, teria ganho uma sobrevida para além do período de campanha eleitoral.
Porém, numa outra análise, é possível aventar uma hipótese diferente:
na verdade, o PT apenas conquistou
um período de relativa tranquilidade
para articular sobre nomes e políticas de governo justamente porque já
estabeleceu linhas de contato como
importantes forças políticas.
A retórica de campanha -que procurou afastar antigos bordões esquerdistas do PT como o repúdio à
Alca e, em seu lugar, colocar termos
como "respeito aos contratos internacionais"- foi acompanhada de
um trabalho de aproximação entre lideranças petistas e assessores do
presidente dos EUA, George W.
Bush. A reunião, na semana que passou, entre a cúpula do PT e o então
responsável pela América Latina no
Departamento de Estado foi um desses lances. Lula, vale lembrar, deve
visitar Bush no mês que vem.
Não parece estranho, nesse contexto, que os petistas tenham conseguido evitar, também na semana passada, que a missão do FMI tentasse obter já um possível aumento na meta
do superávit primário do ano que
vem. Os técnicos do Fundo concordaram em postergar essa delicada
discussão para fevereiro.
A trégua até aqui conquistada pelo
PT, portanto, se assenta ao menos
em parte numa aproximação política
com forças que, não faz muito tempo, eram enxergadas como inimigas
pelo partido. É evidente que está
muito cedo para afirmar que essa
aproximação se converteu num
compromisso propriamente dito.
Mas já é possível vislumbrar as primeiras escolhas da equipe do presidente eleito, que parecem indicar a
preferência por uma transição "lenta, gradual e segura".
O risco é que o caminho escolhido
se mostre, ao final, uma via definitivamente incompatível com a consecução da promessa fundamental da
campanha de Lula, que foi a de promover crescimento econômico com
distribuição de renda.
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