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CARLOS HEITOR CONY
Lula e Jânio
RIO DE JANEIRO - Entre o medo e a esperança em relação ao novo governo, fico com a esperança. Mesmo assim, abro uma brecha nessa esperança, lembrando casos antigos que fazem parte da história -que, afinal, é
a mestra a nos ensinar quando devemos ter medo ou esperança.
A brecha é um flash back mais ou
menos recente. Jânio Quadros foi
eleito com 6 milhões de votos. Na
época, era um recorde absoluto em
escala mundial, tal como aconteceu
agora com Lula.
Jânio era também um fato novo e
não se sabia ainda que era um desequilibrado, coisa que Lula positivamente não é. Em dificuldade para governar de acordo com as promessas
feitas na campanha, Jânio culpava o
Congresso, a Constituição, a imprensa, o empresariado, queria poderes
maiores -se possível, absolutos.
Armou a renúncia na esperança de
que os 6 milhões de brasileiros que
haviam votado nele ocupariam as
ruas das capitais e pegariam em armas, dando-lhe o que precisava para
ser o presidente que todos esperavam.
Aproximar os dois -Lula e Jânio- é dose, quase uma alucinação.
Contudo, os desafios que Lula tem
pela frente, sobretudo no setor social,
obrigará o novo governo a uma ginástica que mais cedo ou mais tarde
exigirá poderes extraordinários.
Honra seja feita a FHC, que violou
a Constituição uma única vez, mesmo assim em proveito próprio -para obter a emenda da reeleição. Fora
disso, foi um servo fiel das instituições, tanto que não quer ficar no poder mais seis dias.
Lula terá problemas bem mais sérios, sobretudo porque durante os oito anos de FHC a área social entrou
em acelerada decomposição: Previdência falida, desemprego, concentração de renda, reforma agrária etc.
Daqui a um ano, quando for devidamente cobrado pelos seus eleitores
de carteirinha, Lula terá de ser um
super-homem ou um novo Jânio
Quadros.
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