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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Alfabetização: uma alavanca contra
a pobreza
No momento em que o novo governo se prepara para atacar a fome, persiste no Brasil um outro tipo
de carência, tão grave quanto aquela
-a carência de conhecimentos.
Recentemente, os alunos do ensino
médio, submetidos a uma prova objetiva, demonstraram dominar apenas
um terço do que deveriam saber. Isso
é uma calamidade numa hora em que
o mercado de trabalho se torna cada
vez mais exigente e o exercício da cidadania requer informações adequadas.
Trata-se do pior desempenho educacional dos últimos cinco anos. O
Brasil foi para a frente em termos de
quantidade ao matricular todas as
crianças na escola, mas foi para trás
em termos de qualidade ao produzir
uma legião de jovens despreparados
para a vida e para o trabalho.
Esse retrato triste não decorre da falta de recursos, mas, sim, da má utilização dos mesmos. Uma pesquisa do
Banco Mundial mostrou que, no início dos anos 90, apenas 40% dos recursos públicos chegavam às escolas;
o restante ficava na burocracia.
No meio de tamanha tragédia, houve uma inovação animadora -o Alfabetização Solidária, que decidiu agir
nos municípios que tinham mais de
70% de analfabetos. Os resultados foram espetaculares. Entre 1997 e 2001, o
programa alfabetizou 2,5 milhões de
adultos. Até o final de 2002, atenderá
3,6 milhões de pessoas. A taxa de analfabetismo, que era de 19,8% em 1990,
passou para 12,8% em 2000, sendo
que os maiores avanços ocorreram no
final da década como consequência
do Alfabetização Solidária.
Milagre? Nada disso. O programa
combinou simplicidade com parceria
em "regime de adoção". Ou seja, para
alfabetizar um adulto, os brasileiros de
boa vontade contribuem, voluntariamente, com R$ 17 por mês por aluno.
Tudo é feito com trabalho direto, sem
falatórios, com poucas fotografias, um
mínimo de reuniões e muita eficiência. Você, leitor, se quiser adotar um
aluno, pode estar certo de que, em seis
meses, esse brasileiro estará alfabetizado -por apenas R$ 102! Não é gratificante?
O Alfabetização Solidária é o cerne
do Programa da Comunidade Solidária, que passou a educar os adultos alfabetizados que desejam prosseguir
nos estudos.
É emocionante e comovente visitar
as localidades atendidas por esse programa e testemunhar, "in loco", o
contagiante entusiasmo dos jovens e
dos adultos -pessoas que sempre estiveram esquecidas e abandonadas e
que agora, com a oportunidade surgida, trabalham o dia inteiro, debaixo de
sol e chuva, e vão à escola à noite para
estudar com afinco e para valorizar a
educação como uma jóia preciosa,
pois todos eles sabem que essa é a melhor ferramenta para vencer na vida.
Oxalá esse programa tenha continuidade no novo governo -com o
mesmo espírito de simplicidade e de
parceria que marcou a sua ação até o
momento. Afinal, qual é a família de
classe média que não pode doar R$ 17
por mês -R$ 102 por semestre- para alfabetizar um brasileiro?
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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