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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Trabalho, autoridade e
amor à nação
A imprensa trouxe nesta semana
duas notícias preocupantes. A
primeira foi o relatório do FMI que
projetou para o Brasil um crescimento
abaixo da média do mundo em 2004.
A segunda foi o estudo da ONU que
mostrou uma franca preferência popular dos latino-americanos, brasileiros inclusive, em favor dos regimes
autoritários para resolver problemas
econômicos.
Para o Brasil, o FMI prevê um crescimento de 3,5%, abaixo do crescimento mundial (4,6%), da América Latina
(3,9%) e do Mercosul (4%). Um crescimento de 4,6% para a economia
mundial produzirá cerca de US$ 2,3
trilhões adicionais, uma vez que o PIB
do mundo está em torno de US$ 50
trilhões (Michael Renner, "Vital Signs
2003", W.W. Norton & Company,
New York, 2003). Para o Brasil, que
tem um PIB aproximado de US$ 500
bilhões, um crescimento de 3,5% produzirá um acréscimo de aproximadamente US$ 17,5 bilhões -o que é
muito pouco para nossas necessidades. Só em infra-estrutura, precisamos investir um mínimo de US$ 15 bilhões por ano.
O que mais preocupa são as razões
do baixo desempenho da economia
brasileira. No que tange à dívida pública, o Brasil é visto como um país
vulnerável, externa e internamente. A
antecipação de um aumento dos juros
nos Estados Unidos deverá aumentar
os riscos. A crescente carga tributária
interna sufocará ainda mais a produção. A falta de consumidores (devido
ao desemprego e à queda na renda)
inviabilizará muitos investimentos.
O mais grave, porém, é a deterioração do quadro social. Os brasileiros
estão se sentindo inseguros em relação ao futuro, tendo em vista o atropelo do direito de propriedade nas zonas
rural e urbana, as atrocidades impunes nas reservas indígenas e a criminalidade galopante no Rio de Janeiro
-e em outras cidades do país.
Com um clima dessa natureza, é explicável -embora abominável-
que, segundo a ONU, 55% dos latino-americanos, inclusive brasileiros, confiem mais em um regime de força do
que na democracia para resolver os
problemas da falta de emprego, da
queda na renda, das drogas e da degradação da saúde, assim como a precariedade da educação, da Previdência, da polícia e da Justiça que marcam
os tempos que correm.
A opção por regimes autoritários
deriva fundamentalmente da falta de
crescimento e do mau uso da autoridade. Aliás, crescimento exige ordem,
e ordem requer respeito ao quadro legal. Quando as pessoas se sentem desnorteadas porque o emprego não
cresce, a renda decresce e a autoridade
desaparece, a primeira reação é buscar
um "herói" e, nesse ponto, infelizmente, autoridade acaba se confundindo com autoritarismo.
Deus nos livre desse mal que assaltou o Brasil por dolorosos períodos de
nossa história e cujo resultado final foi
a destruição das lideranças e o empobrecimento mental da juventude. Mal
ou bem, com problemas e com tropeços, com recessão e depressão, temos
de continuar firmes na trajetória democrática. Afinal, com os recursos
que temos, podemos facilmente colocar o Brasil no topo dos países em desenvolvimento dentro de poucos
anos. É uma questão de trabalhar seriamente e respeitar as leis.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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