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CARLOS HEITOR CONY
Lula e o Brasil
RIO DE JANEIRO - Um dos ossos do ofício de jornalista é a mania de considerá-los bem informados, com respostas para tudo. Ao longo do tempo,
aprendi o macete de responder às perguntas com outra pergunta. É cômodo e dá a impressão de que a gente
sabe mais do que os outros.
Outro dia, me perguntaram o que
Lula vai fazer com o Brasil. Fiz um silêncio tático, para dar a impressão de
um esforço mental. Respondi com
outra pergunta: o que o Brasil fará de
Lula?
Se ele fosse um ditador, deveríamos
partir para a clássica mobilização democrática, que custa sangue, suor e
lágrimas, e custa tempo, sobretudo,
para nos livrarmos de um tirano.
Não é o caso. Lula pode ser tudo, menos um tirano. Pelo contrário, é boníssima gente, boníssima alma, pai
amoroso e marido exemplar, vivido e
sofrido em lutas pela liberdade e pela
justiça social.
Se fosse um governante corrupto,
mais cedo ou mais tarde a sociedade,
como um todo, repetiria o mesmo
impedimento que nos livrou recentemente de uma administração federal
cercada de escândalos.
Se fosse incompetente, os 16 meses
de seu governo já o teriam desmoralizado de tal forma que o poder de fato
estaria sendo exercido por outro homem, um regente, como nos tempos
do Império, ou por um colegiado de
notáveis, ou mesmo por um gabinete
do tipo parlamentarista.
Acontece que Lula não é ditador,
não é corrupto, não é incompetente.
Mas continua patinando, falando
muito e nem sempre bem, ainda não
desencarnou de sua liderança oposicionista, promete um país que outros
governantes não fizeram, promete
até mesmo, por um vício de marketing das muitas campanhas eleitorais
em que se meteu, um espetáculo de
crescimento cada vez mais distante e
improvável.
E aí surge a questão: não sabemos o
que Lula poderá fazer com o Brasil. E
sabemos menos ainda o que o Brasil
ainda fará com ele.
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