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ELIANE CANTANHÊDE
Recordes
BRASÍLIA - Manchete da Folha na sexta-feira: o desemprego na região
metropolitana de São Paulo bateu no nível recorde de 20,6%, com 2 milhões de pessoas no olho da rua.
E a manchete de ontem foi um novo recorde: o superávit primário (diferença entre receitas e despesas, exceto os juros) ficou em R$ 20,5 bilhões no primeiro trimestre. Ou seja:
em 5,41% do PIB, bem mais do que
os já muito altos 4,25% acertados
com o FMI.
Há uma relação de causa e efeito
entre um recorde e outro. O arrocho
começa pelo governo Lula, que mantém juros altos, concentra o dinheiro
público para pagar a dívida, retém
investimentos e engessa a economia.
Vale dizer: segura os empregos.
A isso se convencionou chamar, injustamente, "política do Palocci". Há
muitos outros pais e mães dentro e,
principalmente, fora do Brasil. E é a
ela que Lula passou a reagir depois
de meses apanhando.
Crise Waldomiro, pancadaria na
política econômica, acusações de paralisia do governo e... a popularidade
do Lulinha Paz e Amor despencando. Lula tentou agüentar firme, mas
seu instinto político passou a falar
mais alto. Mais alto, por exemplo, do
que seu discernimento administrativo -que não é muito.
O assembleísmo do PT não poupou
o governo do PT, no qual abundam
reuniões, grupos de trabalho e comissões. A diferença, agora, é que Lula
começou a cobrar diretamente resultados. Quer as coisas acontecendo. E,
para isso, o governo precisa flexibilizar o Orçamento, parar de endeusar
os juros e o superávit primário e dar
verbas para ministérios e programas.
Demorou, mas Lula cede às pressões e comanda a festa. A semana
passada foi de reuniões, uma atrás
da outra. Nelas, ele bateu na mesa
contra ministros que têm verbas e
não sabem usar. Os ministros que
querem mais tiveram voz, os que têm
as chaves abriram o cofre. Palocci,
que embarcou para Washington, parece cada vez mais isolado.
Agora as críticas vão ser ao contrário: o risco é a festa de hoje se transformar na ressaca de amanhã.
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