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CLÓVIS ROSSI
O ridículo e a incompetência
BRUXELAS - Bom, finalmente alguém teve a delicadeza e a brilhante
inteligência de resolver todos os problemas da miséria brasileira: basta
que o país aumente "em dez ou 15 vezes" o dinheiro para programas como
o Bolsa-Escola para compensar as
disparidades de renda e integrar os
mais pobres ao mercado.
Autor da brilhante idéia que certamente nunca havia ocorrido a ninguém na face da Terra: o Banco
Mundial.
Agora é razoável supor que o banco, instituição gêmea do Fundo Monetário Internacional, dirá a seu colega da calçada em frente em Washington que o superávit primário exigido do Brasil tem de ser modificado.
Em vez de 4,25% de "lucro" do governo (para pagar juros), deve haver um
baita déficit, de forma a sobrar dinheiro para o gasto extra com Bolsa-Escola.
E, de quebra, para aumentar os salários da polícia, dos funcionários
públicos em geral, para comprar
equipamentos para que a polícia seja
um tiquinho menos ineficiente, para
construir presídios e tentar evitar a
superlotação, que é uma das causas
de selvagerias como a que se viu na
semana passada, para recompor as
estradas federais virtualmente inutilizadas e para... (o leitor preenche a
sua prioridade, que não faltará).
É ridículo que uma organização internacional se dê ao desplante de fazer sugestões que, embora na essência sejam corretas, não têm como ser
levadas à prática na conjuntura brasileira.
Para que a sugestão valesse de fato,
seria preciso o seguinte, não necessariamente nesta ordem:
1 - Mudar as políticas impostas pelos organismos internacionais e respaldadas pelos países ricos.
2 - Mudar a política interna.
3 - Criar competência no atual governo para, ao menos, gastar o que
lhe sobra, depois de descontado o dinheiro para pagar juros. Quem economiza 5,41% do PIB, quando estava
obrigado a poupar 4,25%, é de uma
incompetência espantosa.
Pior: é um "serial incompetent",
dado que essa economia estúpida
vem desde a posse.
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