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CLÓVIS ROSSI
O vice-rei e a nudez
SÃO PAULO - Todo mundo sabia, faz tempo, que juros estupidamente altos
e superávit fiscal idem "seguram a
economia", para usar a expressão do
chefe da Casa Civil, José Dirceu, na
confissão tornada involuntariamente
pública.
O diabo é que havia (há ainda) um
coro, talvez majoritário, que ou diz o
contrário ou silencia. Coro formado
por governistas atávicos, neogovernistas, partidários de inquebrantável fé
no slogan "a esperança venceu o medo" e, acima de tudo, os beneficiados
pelo modelo.
No caso, os integrantes da pátria financeira, que continuam a vampirizar o restante da economia e, por extensão, a sociedade.
Daí a importância da confissão de
Dirceu. É como se o vice-rei dissesse:
"Estamos nus".
Reconhecida a nudez, talvez se possa desvestir outra bobagem. Todo
mundo sabe que Henrique Meirelles
não conduz a política monetária à revelia do ministro Antonio Palocci e do
próprio presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
Claro que é mais fácil alvejar o mais
fraco politicamente, no caso Meirelles. Mas se os juros estão estupidamente altos, a culpa (ou o mérito,
conforme o ponto de vista) é em primeiro lugar de Lula, em segundo lugar de Palocci e só depois do presidente do BC.
No máximo, pode-se argumentar
que tanto o presidente como o ministro não tomaram a iniciativa, mas foram convencidos por Meirelles (e pelo
formidável coro da pátria financeira)
de que manter juros altos é inevitável,
embora desagradável. Mas não podem fugir à responsabilidade.
Agora que até Dirceu admite que a
queda na atividade econômica "é visível", há um de dois caminhos: ou começa o mais depressa possível a tal fase dois ou se sepulta o slogan, porque,
definitivamente, o medo terá vencido
a esperança.
Cabe também um terceiro caminho:
expulsar Dirceu do PT. Afinal, sua
confissão involuntária faz mais estragos na imagem do governo do que todo o estardalhaço dos mal chamados
radicais.
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