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Negócio dourado
Notícia de que compadre de Lula esteve 6 vezes no Planalto sugere que sua influência é maior do que o governo admitia
O PRESIDENTE Luiz Inácio Lula da Silva anunciou há pouco que o
Brasil está revivendo
os "anos dourados da era JK"
com a grande vantagem de que,
diferentemente do que ocorria
no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), agora a inflação está sob controle e o país se
tornou um credor internacional.
Tomara que o presidente tenha razão, tomara mesmo que a
economia continue caminhando
bem, a despeito das incertezas
em relação a preços e às contas
externas. Mas há a suspeita de
que o até aqui bom desempenho
econômico da "era Lula" tenha
como contrapartida política um
núcleo apodrecido, tal como
aquelas esculturas barrocas carcomidas pelos cupins.
A revelação de que o advogado
Roberto Teixeira, compadre do
presidente, esteve pelo menos
seis vezes no Palácio do Planalto,
sempre em encontros não registrados na agenda de Lula, sugere
que a influência do amigo na administração federal é bem maior
do que o governo admitia até então, e reforça as suspeitas de que
a Casa Civil interferiu decisivamente para viabilizar a venda da
VarigLog e da Varig para um consórcio que, aparentemente, não
reunia todas as condições legais
para fechar o negócio.
Com efeito, pelo menos dois
dos encontros de Teixeira com
Lula estão ligados ao caso. No dia
15 de dezembro de 2006, o compadre foi ao gabinete presidencial acompanhado dos sócios da
Varig um dia depois de a companhia receber autorização para
voar. O outro ocorreu em 28 de
março de 2007, quando o advogado foi ao Planalto acompanhado de dois empresários para comunicar a Lula a compra da Varig pela Gol. Nas duas ocasiões, a
ministra Dilma Rousseff, acusada de pressionar a Anac para remover obstáculos legais à transferência da companhia, estava lá.
Pelo menos até aqui, não há
provas que comprometam a figura presidencial. Mas preocupa
o fato de o governo ter adotado a
mesma estratégia de recuo que
utilizou em outros escândalos: a
princípio oferece à opinião pública uma versão edulcorada sobre seu envolvimento em um fato suspeito e, uma vez comprovada sua falsidade, substitui o
discurso anterior por uma explicação um pouco mais amarga, e
assim sucessivamente, até que o
cliente se dê por satisfeito. Não é
incomum que essa barganha retórica acabe resultando na queda
de um ou outro ministro.
O "dado concreto", para usar
uma expressão do agrado do presidente, é que o Ministério Público Federal precisa investigar seriamente a venda da Varig para
esclarecer se houve fraude em
um negócio que deixou o compadre de Lula nadando em ouro.
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