São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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ANTONIO DELFIM NETTO

Inflação

SÃO JUSTIFICÁVEIS a preocupação do presidente Lula com a possibilidade de um aumento da taxa de inflação e o reconhecimento de que é preciso, com medidas fiscais, estabilizar a expectativa inflacionária em torno de 4,5%.
Para reduzir um eventual excesso da demanda global sem prejudicar o ritmo de crescimento, o melhor caminho é mesmo o corte das despesas de custeio do Governo.
Com isso, preservam-se o investimento privado e boa parte do investimento público, essenciais para a continuidade do aumento da oferta global.
Há, claramente, uma pressão inflacionária de nível planetário. Ela é produzida por mudanças estruturais da demanda por "commodities", pela desvalorização da unidade de medida dos preços (o dólar americano) e pela desesperada busca de oportunidade da incontrolável pirataria internacional, cujo codinome é "hedge fund".
Em matéria de inflação, o Brasil tem se defendido melhor do que os outros Brics (Rússia, Índia e China), como se vê na tabela abaixo. Nela se registram a taxa de inflação acumulada de cada país de 2008 sobre 2006 e a taxa de crescimento acumulada do PIB (2006+2007).


Não há a menor dúvida sobre: 1º) nossa superioridade em matéria de controle da taxa de inflação e 2º) o nosso magnífico fracasso em matéria de crescimento. Talvez isso não signifique nada, mas é interessante registrar que a taxa de juro real no Brasil de hoje (medida com a inflação passada) é da ordem de 7%, enquanto na Rússia é de (menos) 4%, na Índia 0 e na China de (menos) 1%! Isso também não deve ter nada a ver com o fato de que, entre maio de 2006 e maio de 2008, a nossa taxa de câmbio efetiva (a nominal corrigida pela inflação) tenha se valorizado 34%, enquanto a indiana valorizou-se 22%, a russa, 29% e a chinesa, 23%.
Em condições normais de temperatura e pressão (sem o cavalar diferencial de juros), isso indica uma "super" valorização do real da ordem de 15%, que, obviamente, é aplaudida pelos que crêem que a "super" valorização do câmbio é o mais inteligente caminho para controlar a inflação...

contatodelfimnetto@uol.com.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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