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ROTA DE CRESCIMENTO
Os ministros José Dirceu e
Antônio Palocci Filho, cujas
diferenças a respeito das diretrizes
econômicas são conhecidas, assinaram artigo nesta Folha no qual afirmam que o país retomou a rota do
crescimento, embora reconheçam
que ainda há muito a fazer para assegurar o "desenvolvimento sustentável por uma década inteira". O texto
procura encenar uma tentativa de
conciliação num cenário em que o
ambiente econômico menos restritivo tende a facilitar a convergência em
busca do desenvolvimento.
Notícias recentes parecem confirmar o diagnóstico dos ministros.
Em junho, pelo segundo mês consecutivo, o mercado de trabalho apresentou sinais positivos nas seis
maiores regiões metropolitanas do
país, tendo o IBGE apurado aumento de empregados com carteira assinada. A taxa de desemprego continua extremamente alta, mas caiu para 11,7% depois de ter atingido 13,1%
em abril. O rendimento médio do
trabalhador também melhorou, chegando a R$ 886,60 (3,5 salários mínimos), o que representa uma elevação
de 1,8% em relação a maio. Acompanhando a trajetória do emprego e da
renda, aumentou a confiança dos
empresários industriais na economia, de acordo com pesquisa da
Confederação Nacional da Indústria.
Há boas notícias também nas contas externas. O superávit das transações correntes -que contabiliza os
bens e serviços negociados com outros países- alcançou US$ 4,4 bilhões no primeiro semestre, segundo o Banco Central. O fluxo de investimento estrangeiro direto apresentou recuperação, atingindo US$ 4 bilhões no mesmo período. Além do
maior ingresso de investimentos,
houve aumento na renovação das dívidas contraídas pelo setor privado
no exterior após a decisão de elevação gradual da taxa de juros pelo
banco central americano.
Persistem, no entanto, grandes desequilíbrios macroeconômicos. É
elevada a relação dívida pública/PIB,
a dependência externa ainda preocupa e permanece baixa a taxa de investimento produtivo e em infra-estrutura. Na frente externa, é preciso dar
mais relevância às políticas industriais para melhorar a pauta de exportações e garantir a sustentabilidade do superávit comercial. É necessário também recuperar as reservas líquidas, que se encontram em patamar relativamente baixo, alcançando
US$ 21,3 bilhões em junho. O Tesouro talvez pudesse retomar suas compras de dólar, até mesmo para administrar a volatilidade do câmbio.
No âmbito doméstico, resta desmontar a armadilha do endividamento público, articulando uma engenharia financeira para refinanciar
o estoque da dívida em prazos mais
longos e a juros menores. É essencial
ainda, nesse processo, reduzir a propensão do sistema financeiro brasileiro de operar no curto prazo com
"spreads" elevadíssimos.
São desafios de vulto que se apresentam nesse momento mais promissor. Seria deplorável se mais uma
vez o país perdesse a oportunidade
de consolidar um início de dinamismo econômico, deixando de avançar
na redução da vulnerabilidade externa, na maior expansão do crédito e
na recuperação dos investimentos
públicos e privados.
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