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CÚPULA FRUSTRANTE
Por paradoxal que pareça, a
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que tem início amanhã em Johannesburgo, começou a fracassar dez anos atrás, na
Eco-92, no Rio de Janeiro. Apesar de
serem aguardados mais de cem chefes de Estado e/ou governo e cerca de
40 mil delegados, a conferência não
deverá produzir grandes resultados.
Não se espera a tomada de nenhuma
decisão fundamental nem a assinatura de documentos que possam alterar o "statu quo" ambiental.
Parte das frustrações se explica pelo
fato de a Eco-92 ter sido excessivamente ambiciosa. Os dois documentos então produzidos, um sobre mudança climática e outro sobre a diversidade biológica, estabeleceram metas que o mundo não foi capaz de
cumprir. O planeta nunca esteve tão
poluído, e nunca antes tantas espécies animais e vegetais estiveram tão
ameaçadas de extinção.
Para além da quebra de expectativas, caminhou-se para trás em quesitos fundamentais. O evento mais
grave foi, sem dúvida, a retirada unilateral dos EUA do Protocolo de Kyoto, o acordo que estabelece limites
para as emissões de gases-estufa.
Embora o tratado deva permanecer
em vigor, ele se torna muito menos
significativo sem a presença dos
EUA, país que, sozinho, responde
por 36,1% das emissões de CO2 das
nações industrializadas. Outro revés
importante se deu no âmbito do
Fundo Global para o Ambiente, o
GEF. Os países ricos não contribuíram como acordado para a constituição desse fundo, concebido para ajudar nações emergentes a financiar
projetos ecológicos, aí incluídas certas iniciativas de combate à pobreza.
Em termos de futuro, as perspectivas tampouco são animadoras. A crise econômica global sugere tempos
difíceis para investimentos em países
pobres. Até o momento geopolítico é
desfavorável. Depois do 11 de setembro, os EUA vêm adotando uma posição cada vez mais isolacionista,
que tende a solapar iniciativas multilaterais como as que seriam necessárias para implementar programas
ambientais de maior envergadura.
No caso específico do Brasil, a situação parece um pouco menos desfavorável. Em que pese o fato de o
país não ter conseguido diminuir o
ritmo de desmatamento, seu principal desafio ambiental, é razoável afirmar que, desde a Eco-92, desenvolveu-se bastante a consciência ecológica do brasileiro. O clima entre autoridades e ambientalistas deixou de
ser de guerra para tornar-se de cooperação, o que vem permitindo a implementação de algumas políticas
interessantes, como a criação de novos parques nacionais.
Para que não fique uma visão apenas negativa da cúpula de Johannesburgo, deve-se considerar como auspicioso o fato de a reunião despertar
tamanho interesse internacional,
apesar dos resultados até aqui frustrantes. Também são positivos os
avanços obtidos ao longo da última
década no conhecimento científico
de problemas ambientais. Hoje ao
menos já se tem certeza de que é preciso cuidar melhor do planeta, o que
não era tão evidente dez anos atrás.
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