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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
"A Era FHC"
Acabo de ler "A Era FHC" (Cultura Editores Associados, 2002),
que avalia os últimos oito anos de governo. É uma obra séria, bem-feita e
eclética e, por isso, fará parte dos registros da história do Brasil.
O livro mostra um Brasil com muitos problemas: dívidas, juros, desemprego e violência encabeçam a lista.
Os textos analisam o que foi realizado
e o que falta realizar. É revisitando o
passado que se consegue responder à
pergunta: se não tivesse sido feito o
que foi feito, estaríamos melhor ou
pior nos dias atuais?
Em 1990, José Sarney deixou o país
com 85% de inflação em um mês.
Uma monstruosidade! Em 1992, quatro países tinham uma inflação superior a 1.000% ao ano: Rússia, Ucrânia,
Zaire e Brasil. Só o Brasil, com o Plano
Real, conseguiu vencer o flagelo inflacionário.
Essa foi a maior conquista de trabalhadores, consumidores e produtores.
Jamais chegaríamos aonde chegamos
com uma moeda tão doente. Isso exigiu a desindexação da economia, o saneamento das contas públicas, a austeridade fiscal e o estancamento de
desperdícios, até mesmo da inadimplência dos Estados e municípios.
Nada disso foi suficiente, porém, para resolver um dos mais graves problemas do Brasil: a obscena taxa de juros de 12,5% ao ano (excluída a inflação). Isso decorre, em grande parte, da
dívida pública.
Por que o endividamento explodiu?
Porque o governo saneou outras dívidas, como as dos Estados, municípios
e "esqueletos escondidos" pelos governos anteriores. Entre 1994 e 2002,
mais de 60% do crescimento da dívida
mobiliária federal deveu-se ao reconhecimento de passivos contingentes
e à assunção da dívida de Estados e
municípios.
O Brasil estaria melhor se os governos, os bancos públicos, as empresas
estatais, as autarquias etc. continuassem na desordem em que viviam? É
claro que não. Os credores teriam
quebrado e os problemas sociais seriam piores ainda.
Atualmente, vários candidatos à
Presidência da República enchem a
boca para dizer: "Não vamos quebrar
contratos". Isso contrasta com as suas
propostas no passado recente, inclusive a de um plebiscito que pregava
abertamente o calote, sem explicar
que os prejudicados diretos seriam os
detentores de caderneta de poupança
e de títulos públicos e os indiretos, os
demais cidadãos, que ficariam sem dinheiro, sem emprego e sem futuro
-como tristemente vivem os irmãos
argentinos.
Uma análise objetiva das conquistas
econômicas mostra que os atuais problemas sociais seriam mais graves se o
presidente Fernando Henrique Cardoso não tivesse liderado a aprovação
de medidas amargas, entre elas a Lei
de Responsabilidade Fiscal.
A "Era FHC" mostra um balanço
positivo. A casa foi arrumada. O Brasil
está pronto para crescer e, com isso,
pagar as dívidas, baixar os juros, estimular os investimentos, gerar empregos e elevar a renda. Daqui para a frente, resta-nos rezar pelo bom comportamento do setor externo e arregaçar
as mangas no setor interno.
Mãos à obra.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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