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CRIME SEM LIMITES
O episódio é de extrema arrogância e estupidez. Os disparos que anteontem crivaram de balas
a sede da Prefeitura do Rio de Janeiro
são, ao que tudo indica, uma nova
prova de que as instituições oficiais
estão perdendo para o crime organizado o controle do espaço urbano.
Nas sociedades organizadas, o uso
da força é um monopólio do Estado,
já que apenas ele é teoricamente capaz de garantir, pela coerção, direitos próprios à cidadania.
Tornou-se bordão afirmar que os
criminosos se estruturaram organicamente e construíram uma espécie
de Estado paralelo. Têm mão-de-obra hierarquizada, têm mecanismos assistenciais, têm arsenais e forças próprias de segurança para manter sob a devida proteção as operações do narcotráfico.
Nas duas últimas décadas, os grandes centros urbanos brasileiros foram vítimas de uma dinâmica favorável à implantação e ao crescimento
dessa forma de gangsterismo.
Ocorreu uma infiltração dos interesses de criminosos na polícia, o
que fragilizou a repressão, e ocorreram também crises cíclicas na economia, que reduziram o mercado de
trabalho e diminuíram as alternativas de sobrevivência à disposição de
jovens ou de trabalhadores economicamente marginalizados.
Apenas um amplo programa de retomada dos espaços dominados pelas quadrilhas, envolvendo investimentos sociais e melhoria da ação
policial, terá condições para combater a violência. Da mesma forma que,
depois da 2ª Guerra Mundial, os norte-americanos lançaram o Plano
Marshall para evitar que países europeus, depauperados e desesperançados, caíssem nas mãos dos comunistas, o Brasil precisa de um plano
articulado em níveis federal, estadual
e municipal para enfrentar os redutos criminosos que hoje operam como forças de ocupação.
Tal ofensiva significa desde policiamento comunitário, passando por
programas de renda mínima, de
qualificação de jovens e de melhoria
das escolas, até a criação de áreas de
lazer. Significa também repressão
policial eficaz, sem medo da palavra
repressão, que se tornou maldita durante o regime militar. É óbvio que,
para isso, os corpos policiais terão de
ser saneados e reequipados. É uma
tarefa difícil, mas urgente.
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