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TRUCULÊNCIAS
O presidente George W.
Bush tentou dar uma clara senha para a substituição de Iasser Arafat ao declarar, como fez anteontem,
que apóia a criação de um Estado
provisório em Gaza e na Cisjordânia,
mas que, para tanto, é preciso que os
palestinos renovem sua liderança.
É compreensível que os Estados
Unidos tenham preferência por um
perfil determinado de interlocutores,
dentro ou fora do Oriente Médio.
O que eles não podem, entretanto,
é acreditar que o fato de serem hoje a
única superpotência lhes dê o direito
de, por controle remoto, trocar dirigentes ou governantes com os quais
têm divergências. Mesmo que Bush
não tenha citado nominalmente Arafat, sua substituição virou diretriz diplomática. A frágil legitimidade do
presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina) sofre agora um novo e fortíssimo abalo.
Essa legitimidade já vinha sendo
contestada por muitos dos que acreditam na possibilidade de uma solução de paz. Isso porque Arafat demonstrou não controlar -ou até ser
conivente com- a onda sanguinária
de atentados que fez nos últimos meses centenas de vítimas israelenses.
A população palestina também
carrega seu fardo. Ela é objeto de sucessivas operações do Exército israelense que afrontam princípios humanitários sem que Israel possa ao
menos argumentar que tem desmantelado grupos que praticam o
odioso terrorismo. A mão pesada do
primeiro-ministro Ariel Sharon em
nada contribui para desobstruir o difícil caminho para a paz.
Foi Ariel Sharon quem disse pela
primeira vez, com todas as letras,
que Arafat deveria ser substituído. Ao
alinhar-se de forma explícita à lógica
do governo israelense, George W.
Bush enfraquece ainda mais a condição de mediador que os Estados Unidos, na administração Bill Clinton,
exerceram na região.
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