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CALAMIDADE AFRICANA
"Trágico" parece um adjetivo fraco demais para qualificar a situação na África meridional.
Agências humanitárias calculam em
13 milhões o número de pessoas que
podem morrer no continente nos
próximos meses devido à fome. Paralelamente, a epidemia de Aids na
região vai produzindo mais vítimas e
minando as já precárias estruturas
dos países afetados.
À ação da natureza, que periodicamente impõe terríveis secas, somam-se desastres políticos providenciados pelos homens. No Zimbábue, por exemplo, a pequena produção agrícola do país foi praticamente
paralisada pelo fato de o governo ter
confiscado milhares de fazendas que
pertenciam a brancos.
Em Angola, as agências humanitárias afirmam que mal conseguem
trabalhar por causa das minas terrestres que foram espalhadas por todo o
país na interminável guerra civil.
O resultado é uma contabilidade
macabra. Em Angola, por exemplo,
51% da população passa fome. Na
"campeã" Somália, três de cada quatro habitantes sofre de desnutrição.
Os números da Aids como que
acrescentam um toque de crueldade.
A expectativa média de vida na África
austral já caiu para 47 anos. Seria de
62 sem a doença. Em 16 países, 10%
da população está infectada, mas,
em nichos específicos, como as mulheres grávidas na região urbana de
Botsuana, essa taxa chega a 44%.
Em algumas nações, a doença está
matando médicos e professores em
ritmo superior àquele em que podem
ser formados. A população fica assim privada até do mínimo de informação sobre como evitar a moléstia.
A calamidade africana é tão grave
que as poucas esperanças que restam
para o continente repousam sobre a
prometida ajuda dos países ricos. Infelizmente, tem sido mais fácil prometer auxílio do que de fato encontrar meios para enviá-lo.
Parece particularmente absurdo
que ainda se morra de fome num
mundo que em tese já produz alimentos para todos.
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