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CLÓVIS ROSSI
O perigo Bush
SÃO PAULO - Iasser Arafat não é nenhum santo, como deixou bem claro
o mais conhecido intelectual palestino, Edward Said, em mais um notável artigo publicado domingo por esta Folha.
Ainda assim, é o presidente legítimo da Autoridade Palestina e tem o
aval de uma eleição "justa e livre",
conforme certificação da comunidade internacional, bem ao contrário
de incontáveis líderes que gozam de
pleno apoio e, não raro, de suporte financeiro dos Estados Unidos.
Por isso é intolerável a desqualificação de Arafat feita anteontem por
George Walker Bush na esteira, aliás,
de desqualificações anteriores igualmente indignas.
A rigor, a comunidade internacional é que teria o direito de desqualificar George Walker Bush por, ao menos, duas razões de peso:
1 - Retirou a assinatura aposta por
seu antecessor, Bill Clinton, no Protocolo de Kyoto, a mais sólida tentativa
internacional de conter a emissão
dos gases que provocam o efeito estufa e, por extensão, o aquecimento do
planeta.
Ou seja, sobrepôs supostos interesses da indústria norte-americana à
proteção ambiental.
2 - Não apóia a criação do Tribunal
Penal Internacional, com o que os
EUA, sob sua administração, se colocam acima da lei. Envia, ademais, o
claro sinal de que direitos humanos
só devem ser respeitados (e, suas violações, punidas) quando não estão
envolvidas tropas dos EUA.
Um presidente com esse déficit nas
costas não tem o menor amparo moral para dizer quem pode e quem não
pode governar a Palestina, a Cochinchina ou o raio que o parta.
Mesmo que o tivesse, silenciar sobre
essa violação clara à soberania de
uma sociedade, a única a quem cabe
escolher quem deve governá-la, é ser
cúmplice, por omissão, se amanhã ou
depois George Walker Bush cismar
de desqualificar uma eventual Presidência José Serra por conta de divergências insanáveis sobre patentes.
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