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Crédito farto
O ritmo de expansão
do endividamento das
pessoas físicas começa
a ceder, mas o momento
ainda requer cautela
O ESTOQUE de empréstimos bancários ultrapassou R$ 1 trilhão, o
equivalente a 36,5% do
PIB em maio de 2008. Esse ciclo
de expansão do crédito tem sido
liderado pelas operações com as
pessoas físicas, que chegaram a
46% do volume total. Com isso,
as famílias passaram a deter, na
média, ao menos três dívidas: o
financiamento da casa própria, o
do carro e o do consumo -por
meio do crédito consignado, do
empréstimo pessoal, do cheque
especial ou do cartão de crédito.
A expansão do endividamento
das famílias foi impulsionada pelo crescimento da renda e do emprego, mas também pela redução
das taxas de juros (no crédito
consignado) e pelo alongamento
dos prazos (na compra do automóvel e de eletrodomésticos). A
despeito desse processo virtuoso, os empréstimos para as pessoas físicas continuaram caros, e
os prazos, relativamente curtos.
Em maio, a taxa média de juros
nessas operações era de 47,4% ao
ano, e o prazo médio, 457 dias.
O alto endividamento das famílias começa porém a gerar inquietação. Segundo o Sistema de
Informações de Crédito do Banco Central, cresceu o número de
clientes com elevado volume de
dívidas. Em dezembro de 2005,
10,6 milhões de pessoas tinham
dívidas acima de R$ 5.000; em
fevereiro deste ano, esse número
havia crescido para 15,6 milhões.
O elevado endividamento das
famílias, em um contexto de alta
dos juros e redução do ritmo de
crescimento da renda e do emprego, poderá ampliar a inadimplência. Segundo o Banco Central, o índice médio de inadimplência (parcelas com atraso superior a 90 dias) nas operações
de crédito a pessoa física teve pequena alta: de 7,1% em abril para
7,3% em maio. A maior inadimplência foi registrada na aquisição de bens -13,2% em maio.
Tais indicadores ainda não revelam variações muito acentuadas. Todavia, o orçamento familiar disponível para pagar o serviço das dívidas pode estar próximo do limite. A expansão no uso
do crédito rotativo do cartão
(30,4% em 12 meses) indica dificuldades para honrar todos os
compromissos mensais. Esse tipo de dívida cobra juros muito
elevados, perdendo apenas para
o cheque especial.
O aumento dessa modalidade
de crédito exige mais renda no
futuro para honrar os juros, dificultando a manutenção dos fluxos de pagamento e desencadeando uma contração do consumo, em um círculo vicioso: se o
desemprego se elevar, as famílias
vão interromper os pagamentos,
levando os bancos a reduzir as
operações e a restringir o refinanciamento dos devedores.
A fim de evitar uma deterioração acentuada do ciclo de crédito, a autoridade monetária e as
instituições financeiras devem
monitorar o aumento do risco no
interior do sistema. Os dados de
maio mostram que o ritmo de expansão das operações começou a
arrefecer. Os consumidores tomaram menos créditos, e os bancos ficaram mais rigorosos na seleção dos tomadores. É um bom
sinal no sentido de moderar a expansão dos empréstimos -sobretudo para as pessoas físicas.
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