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Ruth Cardoso
O TRATAMENTO de "primeira-dama", como se sabe,
desagradava a Ruth Cardoso. Durante os oito anos do governo Fernando Henrique, os
meios de comunicação consolidaram, desse modo, a praxe de
utilizar apenas o corriqueiro
"dona Ruth" para referir-se a ela.
Depois de seu súbito falecimento, nesta terça-feira, talvez não
seja impróprio, entretanto, recuperar a qualificação que sua simplicidade pessoal, e sua ojeriza
pelo oficialismo de Brasília, faziam questão de rejeitar.
Ruth Cardoso foi de fato, num
sentido muito próprio do termo,
a "primeira-dama" do Brasil. Numa época tão propensa à vulgaridade midiática e ao desrespeito
com a opinião pública, ela deixa
um exemplo raro de elegância
sem afetação, de naturalidade
sem demagogia, e de firmeza
sem arrogância.
Em diversos países do mundo,
as mais admiradas "primeiras-damas", para usar a palavra em
seu sentido convencional, procuraram apenas adequar-se a
uma atitude de discrição. Uma
escolha desse tipo não seria concebível para alguém com a trajetória intelectual e política de
Ruth Cardoso.
Ao contrário, foi marcante seu
papel durante o governo FHC. A
criação da Comunidade Solidária -base dos programas de inclusão social em vigor atualmente- foi um dos feitos administrativos mais fecundos daquele período.
Ruth Cardoso "foi, talvez, o
único consenso do partido", disse o peessedebista Tasso Jereissati ao saber de seu falecimento.
A frase, a que não falta uma saudável dose de autocrítica, mereceria ser expandida: o valor de
sua pessoa, o reconhecimento
por sua atuação, e a tristeza por
seu falecimento, são hoje um
consenso no país inteiro.
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