São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Editoriais

Longa crise

Acadêmicos não vêem resolução rápida para turbulência financeira global e sugerem mais ação do governo dos EUA

A ECONOMIA americana passará por um longo período de recessão. O vaticínio, repetido por uns e repelido por outros acadêmicos, foi endossado pelo economista americano Paul Krugman, em breve passagem pelo Brasil.
Em entrevista à Folha, o renomado professor de Princeton afirmou que, com os preços das residências americanas em queda, o desemprego em alta e a confiança do consumidor abalada, não há saída rápida da crise que mantém estacionado o PIB dos EUA há mais de seis meses. A digestão dos excessos da bolha imobiliária "não será aguda, mas será prolongada", afirma.
Martin Wolf, do "Financial Times", possui diagnóstico similar. Num primeiro momento, diz, esperava-se que a reavaliação de riscos desencadeada pela crise das hipotecas fosse só uma breve interrupção na marcha da economia mundial. Mas "essas esperanças foram frustradas".
"Os apuros de Fannie Mae e Freddie Mac [gigantes das hipotecas americanas], a queda dos mercados acionários e a escalada dos preços do petróleo deixam claro quão longe a turbulência está do fim", continua Wolf. A zona do euro dá sinais de que foi atingida fortemente pela turbulência, talvez de forma tão grave quanto EUA e Reino Unido.
Já para o caso dos países em desenvolvimento, como o Brasil, o diagnóstico de Krugman é distinto. A alta dos preços não se limita a pressões das commodities. Para ele, há sinais de que a demanda está aquecida. A economia chinesa, na verdade, estaria superaquecida. "Eles provavelmente terão que reduzir o crescimento".
Assim configura-se um cenário em que os países avançados enfrentam ameaça de deflação de ativos e retração econômica. Na maior parte dos emergentes, em contraste, as pressões são inflacionárias. Situações distintas requerem remédios distintos.
Para os EUA, a proposta de Krugman é "um pacote de estímulo que envolva mais gastos, e não redução de impostos, e isso pode ser difícil de conseguir".
Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton, e Robert Shiller, professor de Yale, também sugerem a necessidade de estímulos adicionais ao pacote de US$ 152 bilhões negociado entre a Casa Branca e o Congresso. Persiste, porém, desacordo sobre a forma de implementação de um novo auxílio fiscal. Alguns são favoráveis a mais uma redução no Imposto de Renda; outros querem ampliar gastos em infra-estrutura.
Para Krugman, o novo presidente dos EUA terá de enfrentar ainda mais um desafio. Trata-se de regras mais rígidas para os bancos de investimento que passaram a receber apoio do Fed (o BC dos EUA). A virtual ausência de parâmetros de operação no mercado financeiro mostrou-se deletéria para o conjunto da economia e deve mesmo ser revista.


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