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Editoriais
Longa crise
Acadêmicos não vêem resolução rápida para turbulência financeira global e sugerem mais ação do governo dos EUA
A ECONOMIA americana
passará por um longo
período de recessão. O
vaticínio, repetido por
uns e repelido por outros acadêmicos, foi endossado pelo economista americano Paul Krugman,
em breve passagem pelo Brasil.
Em entrevista à Folha, o renomado professor de Princeton
afirmou que, com os preços das
residências americanas em queda, o desemprego em alta e a
confiança do consumidor abalada, não há saída rápida da crise
que mantém estacionado o PIB
dos EUA há mais de seis meses.
A digestão dos excessos da bolha
imobiliária "não será aguda, mas
será prolongada", afirma.
Martin Wolf, do "Financial Times", possui diagnóstico similar.
Num primeiro momento, diz, esperava-se que a reavaliação de
riscos desencadeada pela crise
das hipotecas fosse só uma breve
interrupção na marcha da economia mundial. Mas "essas esperanças foram frustradas".
"Os apuros de Fannie Mae e
Freddie Mac [gigantes das hipotecas americanas], a queda dos
mercados acionários e a escalada
dos preços do petróleo deixam
claro quão longe a turbulência
está do fim", continua Wolf. A
zona do euro dá sinais de que foi
atingida fortemente pela turbulência, talvez de forma tão grave
quanto EUA e Reino Unido.
Já para o caso dos países em
desenvolvimento, como o Brasil,
o diagnóstico de Krugman é distinto. A alta dos preços não se limita a pressões das commodities. Para ele, há sinais de que a
demanda está aquecida. A economia chinesa, na verdade, estaria superaquecida. "Eles provavelmente terão que reduzir o
crescimento".
Assim configura-se um cenário em que os países avançados
enfrentam ameaça de deflação
de ativos e retração econômica.
Na maior parte dos emergentes,
em contraste, as pressões são inflacionárias. Situações distintas
requerem remédios distintos.
Para os EUA, a proposta de
Krugman é "um pacote de estímulo que envolva mais gastos, e
não redução de impostos, e isso
pode ser difícil de conseguir".
Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton,
e Robert Shiller, professor de
Yale, também sugerem a necessidade de estímulos adicionais
ao pacote de US$ 152 bilhões negociado entre a Casa Branca e o
Congresso. Persiste, porém, desacordo sobre a forma de implementação de um novo auxílio
fiscal. Alguns são favoráveis a
mais uma redução no Imposto
de Renda; outros querem ampliar gastos em infra-estrutura.
Para Krugman, o novo presidente dos EUA terá de enfrentar
ainda mais um desafio. Trata-se
de regras mais rígidas para os
bancos de investimento que passaram a receber apoio do Fed (o
BC dos EUA). A virtual ausência
de parâmetros de operação no
mercado financeiro mostrou-se
deletéria para o conjunto da economia e deve mesmo ser revista.
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