|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCOS NOBRE
O efeito
Lula
O ÚLTIMO Datafolha foi definitivo para convencer quem
ainda tinha dúvidas sobre a
importância e a eficácia do horário
eleitoral no rádio e na TV.
Um dia antes da divulgação da
pesquisa, em sua coluna no jornal
"Valor Econômico", Maria Cristina
Fernandes já havia mostrado que o
eleitorado assiste à campanha na
TV sobretudo para se informar.
Lembrou que a estréia da campanha televisiva teve audiência de
57%, superior à do "Jornal Nacional". Trouxe ainda a importante
conclusão de um extenso levantamento do professor Luiz Lourenço: nos "municípios onde há horário eleitoral gratuito, o patamar de
indecisos cai dez pontos percentuais com o início da programação"; onde não há, "o patamar de
indefinidos permanece alto ao longo da campanha e só cai às vésperas
das urnas".
Por que isso acontece? As campanhas perseguem os altos padrões técnicos da própria TV brasileira. E é bem provável que haja regozijo do eleitorado em ver poderosos se sujeitando a esses padrões
para pedir votos. Uma vingança
efêmera pelo descaso com que se
trata a cidadania em todos os outros momentos da vida política.
Mas, ao contrário do que diz a
lenda, ninguém confunde horário
eleitoral com novela. Todo mundo
sabe bem que é artifício. No início
do horário eleitoral, o que se busca
é aquela informação considerada
essencial para decidir o voto. Pelo
menos em um primeiro momento.
Olhando com atenção para as cidades pesquisadas, vê-se que a informação que fez a diferença foi a
identificação de uma determinada
candidatura com Lula.
O próprio Lula repetiu que não
pretende participar das campanhas. Mas, se o apoio explícito de
Lula a uma única candidatura foi a
exceção, os saltos nas intenções de
voto se explicam pela capacidade
de determinadas candidaturas de
convencer o eleitorado de que contam com seu apoio.
Isso mostra, em um primeiro
momento, o acerto do cálculo eleitoral de Lula em estimular candidaturas unitárias da sua base. Essa
unidade não foi alcançada principalmente porque a lógica dessas
eleições municipais é já a do pós-Lula: uma tentativa de conseguir o
melhor posicionamento possível
para 2010. Daí a fragmentação e a
divisão de forças nessas eleições,
talvez só comparáveis àquelas anteriores à estabilização política do
Plano Real.
Por outro lado, é razoável imaginar que o efeito Lula venha a se esgotar logo nesses primeiros dias de
horário eleitoral. Depois desse primeiro empurrão federal, as campanhas devem tomar rumos muito
mais locais. Mas uma boa largada é
muitas vezes decisiva.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Dura lex Próximo Texto: Frases
Índice
|