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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Eleições e falsas promessas
Parece incrível, mas já se passaram dez anos. Foi em abril de
1994. Ele estava de passagem por São
Paulo. Fui apresentado por meio de
um amigo comum.
Seu nome, Roger Douglas, uma
mente brilhante, verdadeira usina de
idéias, ultraliberal e, por isso, polêmico e controvertido. Foi ministro da Fazenda da Nova Zelândia durante quatro anos, no início da década de 90,
quando introduziu várias reformas
estruturais que restauraram a competitividade de seu país.
A conversa foi rolando de tema em
tema: produção, investimentos, tecnologia, educação, justiça, até chegarmos na política. Lembrei-me do papo
no último fim de semana, ao assistir
um dos programas eleitorais para prefeito e vereadores.
Na Nova Zelândia, contou-me Roger, havia uma prática consolidada e
que consegue conter os arroubos de
populismo dos sindicatos. Não sei se o
sistema continua até hoje. Mas, na
época, a regra era simples: toda vez
que um candidato fazia uma promessa aos eleitores, ele tinha de explicitar
como iria realizar o prometido. Se não
dissesse, o seu opositor tinha o direito
de comparecer ao mesmo veículo da
mídia (TV, rádio ou jornal) para desmoralizar o demagogo que, como impostor, estava a fazer promessas irrealizáveis.
Não sei se essa prática continua.
Mas, de qualquer forma, a pressão para conter o populismo e explicitar o
"como" era muito grande. Uma falha
nessa área era o prato cheio para os
candidatos espinafrarem seus opositores. Ninguém queria correr esse risco. Por isso, as promessas tendiam para um realismo.
Na medida em que essa regra foi
sendo praticada, os eleitores passaram
a se interessar muito pelo "como".
Não se trata de uma receita contra a
demagogia. Mas é uma pressão virtuosa, pois encaminhava o debate para um terreno mais objetivo do que
emocional.
Fiquei fascinado pela simplicidade
da regra e sonhei com sua aplicação na
política brasileira. Seria um grande
avanço. Sim, porque, para o político
sério, não basta ser um vendedor de
sonhos; ele precisa ser um pagador de
promessas.
Na campanha atual, que agora chega
à sua parte final, nota-se que as promessas sobem de tom, e de todos os
lados. Os candidatos oferecem serviços tentadores aos eleitores. Mas como fazê-lo? Aumentando impostos e
taxas ou melhorando a máquina pública? Elevando o endividamento ou
esmerando na eficiência? Inchando
quadros ou investindo na qualidade
dos professores, médicos e servidores
em geral?
A cobrança do "como" é parte de
um importante processo educativo e
que forçaria os políticos a "pensar antes de falar".
Mesmo sem ter implantada a prática
da cobrança, penso que seria de utilidade começarmos a enviar cartas, fazer telefonemas e mandar e-mails para os candidatos, nesta última semana,
em especial aos "promessinhas".
Quem sabe, com esse esforço, venhamos a introduzir um pouco de objetividade na cabeça dos mentirosos.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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