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CARLOS HEITOR CONY
Domingo de primavera
RIO DE JANEIRO - Drummond de
Andrade tinha uns compadres em
Itabira que, de tempos em tempos,
mandavam notícias e queijos para
ele. Rendiam (as notícias, não os
queijos) excelentes crônicas que ele
escrevia ainda com suas iniciais,
CDA, no "Correio da Manhã".
Sempre desconfiei que os queijos
podiam ser verdadeiros, embora Itabira produza mais ferro do que laticínios. As notícias, ele as inventava para ter assunto e metáforas adequadas
ao momento nacional.
Não tenho compadres, mas amigos
e parentes espalhados pelo território
nacional. Volta e meia eles me avisam que vão chegar e querem conhecer as novidades do Rio, quais as dicas que dou, onde poderia levá-los.
Sabem-me ocupado mas acham que
eu teria prazer em mostrar os encantos mil de que a Cidade Maravilhosa
é cheia, coração do meu Brasil, segundo a marchinha do André Filho.
Antigamente era mais fácil. Uma
ida ao Corcovado, outra ao Pão de
Açúcar, se o tempo e as autoridades o
permitissem, como nas touradas da
Espanha, uma ida a Paquetá ou à
Floresta do Tijuca, e eles iam embora
empanturrados de nossos mil encantos.
Agora é diferente. Não chegam a
desdenhar o Cristo Redentor nem o
Pão de Açúcar, mas acham que é programa de turista estrangeiro ou de
índio nacional. De tanto lerem as colunas especializadas, querem ir ao
Bracarense, ao Job, ao Baixo Leblon,
aos sambas da antiga Lapa, aos botequins de Santa Teresa, um roteiro de
chope com batata frita ou lingüiça
calabresa que realmente não faz o
meu gênero.
Dou desculpas e, se elas são aceitas
ou não, azar meu, perco alguns amigos e parentes distantes. Bem verdade que não faltam os queijos -estou
usando uma metáfora cretina, recebo doces confeitados, balas esquisitas
de esquisitíssimas frutas locais, que
de nada me servem.
Mas tal como acontecia com o poeta Drummond, me deram assunto
para esta crônica do primeiro domingo desta primavera.
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