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NÃO É SÓ A BENEDITA
Algumas vozes têm se levantado em defesa da ministra Benedita da Silva, que estaria sendo excessivamente exposta e criticada em
razão de sua viagem a Buenos Aires,
paga com dinheiro público, para
participar de um encontro religioso.
Há um sentimento de que as censuras estariam ligadas ao fato de ser a
ministra uma negra de origem pobre. Haveria excesso de rigor ou em
decorrência de preconceito ou de zelo exagerado para evitar um tratamento paternalista do caso.
É verdade que possivelmente viveríamos no mais probo dos países se
os casos de irregularidade envolvendo dinheiro público se resumissem a
passagens aéreas. Não há, no entanto, nenhuma norma que estabeleça
um limite tolerável para o uso indevido dos recursos do contribuinte, o
que coloca a ministra numa situação
eticamente difícil.
Benedita da Silva, no entanto, não
está sozinha. Revelou-se agora que o
seu colega do Ministério dos Esportes, Agnelo Queiroz, teve suas despesas nos Jogos Pan-Americanos, realizados na República Dominicana, pagas pelo Comitê Olímpico Brasileiro
(COB). Mesmo assim, Queiroz não
havia devolvido o dinheiro do governo que requisitara para a viagem.
O caso parece mais grave do que o
de Benedita. Além de ter permanecido com a verba, o ministro foi agraciado com favor de uma entidade sobre a qual seu ministério deve exercer
autoridade. De certa forma, seria como se o ministro Palocci, da Fazenda, tivesse despesas de viagem pagas
pela CUT ou pela Fiesp. Para piorar a
já espinhosa situação de Queiroz, havia sido ele, como deputado, um dos
artífices da lei que passou a transferir
ao COB recursos de loterias federais,
tendo com isso despertado a eterna
gratidão da entidade.
Decide agora, o governo, depois de
arrombada a porta, exercer maior vigilância sobre as viagens. É bom que
o faça. É de perguntar, no entanto, se
o petismo, outrora implacável quando se tratava de ocorrências semelhantes em governos aos quais se
opunha, não deveria tomar medidas
mais efetivas.
Não é demais lembrar que o governo também tem abrigado em seu ministério um outro protagonista de
caso bombástico. Trata-se do ministro dos Transportes, Anderson
Adauto, que teria recebido ao longo
de dois anos, a título de vencimentos, como presidente da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, a quantia de R$ 2,62 milhões. Por mais que
o ministro alegue ter simplesmente
dado prosseguimento a uma situação anterior, o fato é que se trata de
algo descabido. Aceitar vencimentos
da ordem de R$ 129 mil mensais, como o fez em 2001, pode ser conveniente, mas definitivamente não é
uma atitude ética. É, sim, uma afronta. Não obstante o PT preserva o aliado do PL numa das mais importantes pastas federais. O mundo, de fato, dá muitas voltas.
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