São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES MURO DA DISCÓRDIA Construir a paz, e não muros MUSA AMER ODEH
Desde que ocupou o território palestino, em 1967, Israel está violando constantemente o direito internacional. Com seu completo desdém pelas
resoluções do Conselho de Segurança
da ONU, que pedem o fim da ocupação,
o desmantelamento das colônias e a
suspensão da anexação ilegal de terras,
bem como com seu desdém para com
as resoluções pedindo o estabelecimento de um Estado palestino independente, Israel vem agindo como um Estado
acima da lei. Ironicamente, no entanto,
Israel se queixa de que o mundo todo
está "contra" si.
É preciso apontar que a resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU baseia-se na idéia de que é inadmissível ocupar territórios pela força. Por isso, Israel foi conclamado a se retirar, em novembro de 1967, dos territórios que ocupara na guerra de junho daquele ano. Desde então, Israel constantemente inventa novas medidas e ações, sempre ilegais, para criar novos fatos práticos, em uma tentativa de proteger a ocupação, e não seu povo, como usualmente alega. O padrão começa com a instalação de assentamentos ilegais, com colonos armados, depois anexação dessas terras por Israel, a seguir novos confiscos de terras e a construção de estradas para a proteção dos colonos e, agora, a construção de um muro para proteger as colônias ilegais, seus ocupantes e as estradas que levam a elas. Sob o mesmo pretexto de "segurança", Israel iniciou com ainda mais ferocidade, em junho de 2002, o estágio final de sua tentativa de acabar com a existência do povo palestino em sua terra, bem como qualquer chance de paz. Por isso o muro. As políticas israelenses são responsáveis pela obsessão do país com a segurança. É o povo palestino, na verdade, que tem grave necessidade de proteção e que pediu várias vezes à comunidade internacional que a forneça. As tremendas injustiças infligidas por Israel aos palestinos, ao longo das décadas, incluem indescritível humilhação de pais diante de suas famílias, de mães diante de seus filhos. Nos últimos três anos, nosso povo e nossa infra-estrutura sofreram pesadamente, com os repetidos bombardeios aéreos contra civis, a destruição de casas, pomares e oliveiras centenárias, bem como os assassinatos e as execuções diários. Israel fechou escolas e universidades, restringiu nossa movimentação, com postos militares vigiadas por soldados sempre prontos a atirar, e é responsável pela destruição de nossa economia. Trata-se apenas de alguns exemplos de como é a vida do povo palestino sob a ocupação israelense. O que está acontecendo não é só um confisco de terras, é a proscrição da vida e dos sonhos de gerações de palestinos. Por isso, 144 países conclamaram os israelenses a suspenderem a construção do muro, a demolirem o trecho já construído e a voltarem ao caminho que conduz à paz. O primeiro passo é Israel pôr fim à sua ocupação, e não construir mais muros de apartheid. Musa Amer Odeh, 55, mestre em sociologia e filosofia, embaixador, é o chefe da Delegação Especial da Palestina no Brasil. Tradução de Paulo Migliacci Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Daniel Gazit: Cerca contra o terror Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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