|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A gula do Estado e
a pobreza do povo
Aonde foram os consumidores?
Nenhuma nação consegue crescer e garantir um desenvolvimento
sustentado se não contar com um vigoroso mercado interno. Isso é óbvio.
O IBGE concluiu, no mês passado, a
POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) para ver quanto o brasileiro ganha e em que gasta. Os resultados foram preocupantes. Ao longo dos últimos 30 anos, o brasileiro ficou mais
pobre, endividou-se e reduziu sua capacidade de compra.
Em parte, isso decorreu do grave
quadro de desemprego e queda de
renda que assolou o país durante os
últimos anos. Mas, além disso, aumentou a gula do Estado. Vejam estes
dados.
Entre 1970 e 2004, por cima do aumento dos impostos diretos, como é o
caso do Imposto de Renda, os impostos indiretos passaram de 7,5% do PIB
para 15%. Estes são de maior gravidade para o lado do consumo, porque
recaem sobre os preços dos bens e serviços (ICMS, IPI, PIS, Cofins e outros).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, entre
as famílias brasileiras que ganham até
R$ 400 por mês, esses impostos abocanham cerca de 25% da sua minguada
renda, ou seja, R$ 100. Um absurdo!
A tributação sobre o consumo, além
de excessiva para todas as faixas de
renda, é injusta para os mais pobres,
levando-se em conta que seus gastos
com alimentação constituem seu
principal item de despesa. Ademais,
isso destrói o maior potencial de consumo deste país.
Muitos argumentam que os pobres
"têm" de pagar mais porque usam
mais os serviços públicos. O tema é
controvertido, mas não parece justo
querer justificar um "assalto" aos bolsos que vivem vazios em troca de serviços de saúde e educação.
Se o Estado dobrou os impostos indiretos, será que a abrangência e a
qualidade dos serviços prestados seguiu essa mesma proporção?
Não é o que se vê com os alunos que
saem da oitava série sem saber ler, escrever e calcular adequadamente.
Nem com as filas de doentes e aposentados que varam a madrugada nos
hospitais e postos do INSS. Para não
falar da violência, da falta de segurança, da lentidão da Justiça e da escassez
de habitação decente.
É difícil fazer o país crescer com esse
tipo de constrangimento. Com impostos excessivos e juros escorchantes, jamais teremos a quantidade de
consumidores para estimular os investimentos; e, sem investimentos,
não haverá empregos. Daí para a frente, fecha-se um círculo perverso.
Os jornais desta semana já anunciaram que a carga tributária estará na
casa dos 38%, o que é lamentável. Ressalta-se, porém, o Estado de São Paulo, que inteligentemente baixou alguns impostos, inclusive o ICMS, sem
perda de arrecadação. Que outros Estados sigam o exemplo paulista.
A continuar desse jeito, acabaremos
com os consumidores. Sem consumidores, não há investimentos ou empregos.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O monarca das coxilhas Próximo Texto: Frases
Índice
|