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CARLOS HEITOR CONY
De autores e frases
RIO DE JANEIRO - Uma frase
atribuída a Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do regime nazista, foi repetida por Celso Amorim numa reunião internacional e
provocou constrangimentos:
"Mentir, mentir, que sempre fica
alguma coisa". O leitor Fabrizio
Wrolli enviou carta ao "Painel" perguntando em qual historiador, e em
que livro, há referência à frase.
Não tenho elementos para esclarecer o leitor, de qualquer forma, é
possível que Goebbels a tenha dito.
Contudo, a frase não é original. Foi
pronunciada bem antes do advento
do nazismo por Voltaire, um dos totens do Iluminismo, e tinha como
alvo a Igreja Católica, que ele chamava de infame: "Écrasez l'ìnfâme". Voltaire recomendava: "Caluniai, caluniai que ficará alguma coisa".
É possível, também, que a frase
não seja de Voltaire, mas atribuída a
ele por historiadores católicos. Periodicamente, surgem coisas assim,
e o leitor acima citado lembra o caso
de De Gaulle, que nunca disse que o
Brasil não era um país sério. Mas a
frase ficou sendo dele.
Já comentei a mania de se atribuir o "Navegar é preciso" a Fernando Pessoa. O pessoal mais recente prefere citar Caetano Veloso
ou Ulysses Guimarães como autores do conceito que, por sinal, é lema da Liga Hanseática. Li a frase
gravada numa ponte de pedra que
dá acesso a Lübeck, cidade em que
nasceu Thomas Mann.
Qualquer almanaque informa
que a frase foi pronunciada por
Pompeu. Dividindo o poder com
César, que andava pelas Gálias,
Pompeu enfrentou uma crise no
abastecimento em Roma. Pompeu
comandou uma esquadra para buscar alimentos no norte da África.
Com os navios abarrotados, os tripulantes se amotinaram, temendo
enfrentar o mau tempo no Mediterrâneo. Pompeu os incentivou: navegar é preciso.
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