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CLÓVIS ROSSI
Lula, Tancredo, a Bíblia
SÃO PAULO - O presidente eleito demonstra ter plena consciência dos
verdadeiros problemas da pátria.
"Enquanto houver, neste país, um
só homem sem trabalho, sem pão,
sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa", diz.
Não, não, leitor, não se trata do virtual presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A citação acima pertence
a outro presidente eleito, Tancredo
de Almeida Neves, no discurso da vitória no pleito indireto de 1985.
Poderia ter sido do mesmo Tancredo ao assumir o cargo de primeiro-ministro do efêmero parlamentarismo, 24 anos antes. Ou de Deodoro da
Fonseca na proclamação da República. Ou de dom Pedro na proclamação
da Independência.
A história do Brasil é a história da
busca da verdadeira prosperidade,
para ficar nos termos expostos por esse conservador iluminado que foi
Tancredo. O esquerdista Lula repetirá Tancredo, talvez com outras palavras, hoje ou na posse.
Cito Tancredo apenas para deixar
claro que a esperança não foi inventada pelo PT em 2002.
A tarefa do partido é transformar
esperança em realidade -em circunstâncias infernalmente difíceis,
interna e externamente.
Há, de um lado, o coro ensurdecedor dos mercados e de seus ventríloquos na mídia, na academia e nos
negócios: superávit fiscal, austeridade, ajuste, respeito aos contratos, viva
o FMI, e por aí vai.
É até possível que ouvir a voz dos
mercados seja necessário, seja correto
ou, pior, seja inevitável.
Mas não dá para esquecer que a
voz rouca das urnas digitou outro recado: crescimento econômico, por extensão mais emprego e melhores salários. Ou, para voltar a Tancredo:
trabalho, pão, teto e letras.
Pelo tom da campanha, o PT tentará conciliar o clamor do mercado
com o clamor da rua.
É possível isso ou vale o que está escrito na Bíblia, que diz que não se pode servir a dois senhores?
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