|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Democracia, paciência e competência
Os brasileiros têm a felicidade
de poder escolher livremente os
seus governantes -legisladores, governadores e presidente da República.
A liberdade é o mais rico patrimônio
de um povo. Nem sempre nos damos
conta disso. A liberdade é como a saúde: só a valorizamos quando a perdemos.
Apesar do calor da campanha, os
presidenciáveis aprenderam que o vitorioso terá de governar para todos.
Os eleitores entenderam que, passada
a eleição, todos serão irmãos como
sempre foram, integrados numa nação que, há 500 anos, pratica a mesma
língua, a mesma cultura e o mesmo
fervor pela pátria grande.
De amanhã em diante, a contenda
terá ficado para trás. Não haverá mais
"lulistas" ou "serristas". Serão 175 milhões de brasileiros, todos chamados a
ajudar o país com trabalho, dedicação
e respeito.
Mas o aprendizado do vencedor não
terminará com a sua eleição. Ao contrário. Os problemas e o curso da história serão seus mestres até o fim do
mandato. Ele saberá logo que, no regime democrático, governar é tolerar e
respeitar os contrários, garantindo-lhes o direito da discórdia e retirando
do debate os componentes da síntese.
O mandatário que sai deixa isso como exemplo para o mandatário que
entra. Poucos políticos brasileiros foram tão tolerantes quanto o presidente Fernando Henrique Cardoso. Com
sua conduta "irritantemente paciente", ele mostrou que o exercício odioso do poder é o caminho mais curto
para encurtar um mandato.
Os que caíram pelo caminho lhe deram razão. Os que observaram a sua
tolerância, entenderam a importância
dessa virtude para garantir a liberdade
com que todos nós estamos votando
neste domingo como partícipes de
uma majestosa festa democrática. Nada disso teria acontecido se o seu
mandato tivesse sido marcado pelo fanatismo, pelo revide e pela retaliação.
O Brasil está acima das divergências
políticas. O que se espera do vencedor
é, em primeiro lugar, o respeito ao
vencido. A modéstia é a alma da civilidade.
Em segundo lugar, aguarda-se que o
novo governante se dirija a todos os
governados, indistintamente, para
unir todo o povo brasileiro em torno
da difícil tarefa de construir um país
melhor. O novo governante terá de
converter os ressentidos não mais por
meio das mirabolantes promessas da
campanha eleitoral, mas pela força do
realismo do trabalho que terá de fazer.
Em terceiro lugar, espera-se o reconhecimento ao presidente que sai, não
só para agradecer as garantias democráticas que viabilizaram a eleição daquele que entra, mas, sobretudo, pelo
seu espírito de responsabilidade ao
preparar os elementos que o eleito necessita para finalizar a sua estratégia
de administração.
Esse é o dote que o atual presidente
deixa à nação. Essa é a herança que o
eleito recebe. Isso é o que se espera que
ele faça no dia de preparar seu sucessor. Precisamos manter viva a convicção de hoje, ou seja, a de que o Brasil
amadureceu.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Pela parte de cima Próximo Texto: Frases
Índice
|