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O MEDO DA DEPRESSÃO
O sombrio cenário mundial,
cinco anos depois do colapso
do baht tailandês, que deflagrou a
crise asiática, desafia a imaginação e
o conhecimento de economistas, governos e empresas. A hipótese de
uma depressão mundial torna-se a
cada dia mais provável.
Há cerca de quatro anos, a idéia de
que o mundo rumava para uma nova
depressão foi apresentada e discutida por um dos mais importantes
economistas da atualidade, Paul
Krugman. Em seu livro "O Retorno
da Economia da Depressão", ele ainda se mantinha otimista, confiante
no poder de reação dos governos.
Na mesma época, o célebre especulador George Soros lançava outra
obra de tons sombrios. Em "A Crise
do Capitalismo Global", o alerta envolvia ameaças à noção de sociedade
aberta, um dos bordões exaustivamente repetidos pelos ideólogos da
globalização financeira radical.
Como J. M. Keynes, observador da
crise de 29, Krugman e Soros escreveram com o intuito de evitar os efeitos autodestrutivos do capitalismo.
Eles comungam de uma idéia básica:
as expectativas de enriquecimento
criadas pelos sistemas financeiros
são insustentáveis. Mais cedo ou
mais tarde, vem o ajuste de contas.
A esquizofrenia entre riqueza criada na produção e acumulação de capitais financeiros torna a economia
mundial instável. Para esses analistas, a consciência do problema seria
o ponto de partida para a ativa intervenção dos governos. O otimismo
reformista foi desautorizado no curto período que se seguiu à publicação
de seus alertas. Os governos tornaram-se frágeis dadas a magnitude e a
rapidez dos fluxos globais de capital.
A corrida maluca dos investidores
internacionais em busca de oportunidades ou proteção ficou evidente a
partir da crise asiática. Mas o que parecia em princípio um movimento
defensivo de frustração com os então
chamados "mercados emergentes"
tornou-se uma fobia generalizada.
A aversão ao risco foi crescendo.
Sem novas oportunidades de mercado e sofrendo perdas significativas
na Ásia e na América Latina, os investidores se refugiaram no mercado financeiro dos EUA. Essa fuga em
busca de qualidade criou um "empoçamento" de capitais que prolongou
a fase de prosperidade nos EUA. Mas
criou também expectativas novamente insustentáveis de valorização
de empresas e empreendimentos.
A frustração de expectativas era
inescapável. O crescimento das empresas dos EUA dependia do crescimento do resto do mundo. Mas o
resto do mundo já não podia mais
crescer sem o dinamismo dos
"emergentes" -o Japão estava estagnado e a União Européia, mais
preocupada em conferir austeridade
a sua nova moeda.
Sem fontes vigorosas de demanda
por seus produtos, as economias e as
empresas tentam ainda refugiar-se
em medidas protecionistas. A reação
defensiva apenas piora o quadro,
sem que os governos tenham força
ou engenho para transformá-lo.
No passado, crises eram vistas como oportunidades para os governos
alçarem empresas e mercados para
fora da areia movediça da depressão.
Sem contar mais com essa opção, a
economia mundial é palco de uma
ampla e irreversível queima de capitais. Os Estados poderão talvez fazer
apenas o rescaldo, num futuro que
ainda não se sabe quando virá. A euforia financeira recente termina como terminaram outras, destruindo
empresas, moedas e governos.
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