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ALCA EMPRESARIAL
No mar de ignorância técnica
que prevalece no Brasil quando o assunto é a Área de Livre Comércio das Américas, o esforço da
Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo em promover uma simulação de seus impactos no setor
produtivo do país deve ser especialmente louvado. Uma das conclusões
da pesquisa é a estimativa de que, se
as barreiras dos países americanos
forem zeradas em 1º de janeiro de
2006, o saldo para o Brasil, em termos de comércio exterior, será negativo em US$ 1 bilhão. Esse dado está
longe de ser o que mais preocupa no
estudo da Fiesp, que, em seu conjunto, expõe o gritante despreparo brasileiro para a Alca.
Na verdade, a conta total efetuada
pelos técnicos da Fiesp vale mais para esboçar o potencial "total" de impacto da Alca no setor empresarial
brasileiro do que para precisar o que,
de fato, ocorrerá quando -e se- a
área de livre comércio for implantada. Isso porque as condições em que
se encontram as negociações não indicam que haverá queda abrupta de
tarifas em todos os setores. Esse aspecto, paradoxalmente, pode tornar
o resultado do acordo muito pior para o Brasil do que a perda estimada
de US$ 1 bilhão em divisas.
A Fiesp arrola 24 nichos em que os
brasileiros são muito competitivos
em relação a seus potenciais parceiros de Alca -entre eles calçados, aço
e suco de laranja. Parte importante
desses segmentos não estará na mesa de negociações da Alca porque o
Congresso dos Estados Unidos, na
prática, impediu o presidente George W. Bush de tratar deles e de outros
tópicos vitais para os interesses brasileiros, como as barreiras estabelecidas por meio de antidumping.
Além disso, prevê o estudo da Fiesp
que a perda do Brasil com a Alca será
mais intensa no conjunto de produtos mais dinâmicos no mercado global. Ou seja: o Brasil corre sério risco
de ver-se cada vez mais reduzido a
um exportador de "commodities".
Se o nome do jogo é preparo burocrático para enfrentar as duras batalhas de uma economia mais aberta,
então a conclusão também não é das
melhores. Os EUA arregimentam
mais de 16 mil pessoas para seus serviços de defesa comercial; o Brasil
dispõe de 62. Se se for comparar a
carga de tributos nos produtos exportados, também o Brasil se sai pessimamente mal.
A não ser que haja uma verdadeira
"revolução", num curto espaço de
tempo, tanto institucional como de
cultura empresarial no Brasil, aceitar
enfrentar negociações da Alca com
tamanha assimetria será desastroso.
E o sucessor de FHC, aos 15 dias de
sua posse, terá de enfrentar uma rodada de negociações decisiva a esse
respeito. Se os candidatos demorarem muito a "refletir" sobre o tema e
a expor suas propostas, o Brasil pode
ser prejudicado fortemente.
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