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CLÓVIS ROSSI
Pequenas mentiras inúteis
SÃO PAULO - Na sua coluna de terça-feira, o filósofo Roberto Mangabeira
Unger deu comovente lição de humildade a todos os que pretendem governar. A certa altura, diz:
"É preciso a cada dia decidir (...),
decidir, entretanto, sabendo que
nunca sabemos o bastante para decidir sem risco de erro."
É uma pena que nenhum dos quatro principais candidatos à Presidência tenha temperamento para seguir
tal norma. Nem mesmo Ciro Gomes,
o candidato de Mangabeira.
Ao contrário, Ciro é campeão em
tentar passar a impressão de que jamais erra e de que tudo sabe. E, ao fazê-lo, mente ou desinforma.
Cito apenas uma mentira, menor,
mas reveladora. Ao falar sobre o escândalo do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), que o repórter
Marcio Aith reintroduziu no noticiário, Ciro disse: "Já conhecia essa denúncia, é antiga. Explodiu na Europa, sob censura no Brasil, há mais de
um ano e meio". Em duas frases do
candidato, três mentiras.
Mentira 1 - Não explodiu só na Europa. Foi no mundo todo, Brasil inclusive, porque a firma francesa
Thomson, prejudicada pela espionagem em favor da norte-americana
Raytheon, gritou alto.
2 - Não foi há mais de um ano e
meio só. Foi há exatamente sete
anos, em 1995, como uma das sequelas do grampo no telefone do chefe do
Cerimonial do Planalto, embaixador
Júlio César Gomes da Silva, que revelou conversas complicadas.
3 - Não houve censura no Brasil. Já
sabia disso, mas pelas dúvidas fui
checar nos arquivos da Folha de
1995. Só com minha assinatura, há
42 textos sobre o Sivam, quase todos
duramente críticos.
Ciro não tem a obrigação de saber
tudo sobre tudo a todo momento.
Mas tem, sim, a obrigação de não
fingir que sabe. Fica feio e permite
suspeitar que outras coisas que ele
diz são igualmente mentirosas ou
são igualmente desinformadas.
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