São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Tasso, o FHC de Ciro

BRASÍLIA - Tasso Jereissati está para Ciro Gomes como Fernando Henrique Cardoso está para José Serra. Tasso e FHC são um pouco mais velhos, maduros, serenos e negociadores do que os dois candidatos. Ciro e Serra, mais afirmativos e brigadores.
O crescimento de Ciro nas pesquisas corresponde a um crescimento da importância política de Tasso na mesma proporção. E, caso Serra dê a volta por cima e recupere posição, FHC será decisivo para o empurrão final até o segundo turno.
Tasso é o grande fiador político de Ciro, considerado excessivamente impulsivo e imprevisível. FHC, o instrumento para conectar Serra a um eleitorado que, aparentemente, não vê muita graça nele.
Nos dois casos, é sempre um desconforto trabalhar a relação política, administrativa e até pessoal entre sucessor e sucedido. Tasso e Ciro mantêm um discurso uníssono de lealdade há anos e, por mais que se tente, não falam mal um do outro. Já FHC e Serra mantêm uma relação de amor e ódio, e não raro a camaradagem resvala para a competição. Esse é um temor do círculo próximo a FHC num eventual governo Serra.
Os dois grupos vivem uma espécie de queda-de-braço. Os paulistas ameaçam apoiar o petista Lula num eventual segundo turno sem Serra. Os cearenses articulam a contra-ofensiva, dizendo que eles podem ir, mas o PSDB fica com Ciro.
O momento é obviamente bom para Ciro e ruim para Serra, mas o mais importante não é o resultado de pesquisas em si. É o efeito no esquema político, na base da candidatura, na vontade, no ânimo, na garra da campanha. E no humor do candidato.
Ciro começa a montar um esquema real de poder, que parecia muito fluido, muito inconsistente. Serra, ao contrário, passa a conviver com a ameaça de dissidências num esquema que parecia tão bem montado.
Até nisso Tasso e FHC são fundamentais. Tasso, para conter o clima de já ganhou na campanha de Ciro. FHC, para não deixar a peteca cair na campanha de Serra. Nem a peteca, nem os aliados.


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