São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Tutu e presunto

RIO DE JANEIRO - Dirão que é assim mesmo: todos os rios correm para o mar. Quem pendura um presunto na porta da frente fatalmente recebe a visita de amigos. Sem presunto, todos passam e buscam uma porta onde tenha presunto pendurado. É a vida.
Garotinho vai mal nas pesquisas e, sem o presunto da possibilidade de entrar no segundo turno, está sendo abandonado pelos seus financiadores. Ciro deu um salto para a frente, e o presunto que pendurou à porta atraiu novos financiadores.
Serra não precisa de presunto: tem o governo à sua porta e, para muita gente, o presunto mais suculento ainda é o governo.
Presunto e governo à parte: qual o óleo que lubrifica a campanha presidencial, a mola que faz os candidatos girarem e se posicionarem? Não é o programa, o passado, as idéias, nem mesmo a cara e a coragem dos pretendentes. É a possibilidade de ser eleito, de assumir a caneta que assina nomeações, promoções, sinecuras e comissões.
Mal comparando, ou melhor, bem comparando, é como no turfe, em que o apostador coloca seu dinheiro no cavalo que ele acha com mais chances de ganhar o páreo. Para isso, ele estuda meticulosamente os concorrentes, seus ancestrais, suas últimas performances, quem o montará, se a pista será leve ou pesada, enfim, avalia diversos fatores para finalmente meter a mão no bolso e cravar um dinheirinho.
Já foi tempo em que se procurava uma afinidade política, ideológica ou mesmo social entre o candidato e o financiador. A família Krupp investiu na campanha de Hitler por ideologia, não para obter lucro. Acabou levando tudo, ganhando inclusive muito dinheiro com o rearmamento da Alemanha.
Henry Ford só largava o tutu se concordasse com o candidato. Perdia muitas vezes, mas ficava com a consciência tranquila. Financiara uma idéia: a sua.
No Brasil, a relação que vale é a do presunto com o tutu: presunto na porta, tutu no bolso.


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