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CARLOS HEITOR CONY
Tutu e presunto
RIO DE JANEIRO - Dirão que é assim mesmo: todos os rios correm para o
mar. Quem pendura um presunto na
porta da frente fatalmente recebe a
visita de amigos. Sem presunto, todos
passam e buscam uma porta onde tenha presunto pendurado. É a vida.
Garotinho vai mal nas pesquisas e,
sem o presunto da possibilidade de
entrar no segundo turno, está sendo
abandonado pelos seus financiadores. Ciro deu um salto para a frente, e
o presunto que pendurou à porta
atraiu novos financiadores.
Serra não precisa de presunto: tem
o governo à sua porta e, para muita
gente, o presunto mais suculento ainda é o governo.
Presunto e governo à parte: qual o
óleo que lubrifica a campanha presidencial, a mola que faz os candidatos
girarem e se posicionarem? Não é o
programa, o passado, as idéias, nem
mesmo a cara e a coragem dos pretendentes. É a possibilidade de ser
eleito, de assumir a caneta que assina
nomeações, promoções, sinecuras e
comissões.
Mal comparando, ou melhor, bem
comparando, é como no turfe, em
que o apostador coloca seu dinheiro
no cavalo que ele acha com mais
chances de ganhar o páreo. Para isso,
ele estuda meticulosamente os concorrentes, seus ancestrais, suas últimas performances, quem o montará,
se a pista será leve ou pesada, enfim,
avalia diversos fatores para finalmente meter a mão no bolso e cravar
um dinheirinho.
Já foi tempo em que se procurava
uma afinidade política, ideológica ou
mesmo social entre o candidato e o financiador. A família Krupp investiu
na campanha de Hitler por ideologia,
não para obter lucro. Acabou levando tudo, ganhando inclusive muito
dinheiro com o rearmamento da Alemanha.
Henry Ford só largava o tutu se
concordasse com o candidato. Perdia
muitas vezes, mas ficava com a consciência tranquila. Financiara uma
idéia: a sua.
No Brasil, a relação que vale é a do
presunto com o tutu: presunto na
porta, tutu no bolso.
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