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Freada populacional
Redução da fecundidade costuma trazer maior prosperidade social, mas fase de bônus já vem
com data para acabar
HÁ TEMPOS se sabe que a
população brasileira
está envelhecendo,
mas um novo estudo,
divulgado no início deste mês,
mostra que esse processo está
ocorrendo num ritmo bem mais
acentuado do que se previa.
A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), realizada
pela demógrafa Elza Berquó, do
Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento, revelou que a taxa de fecundidade da brasileira
atingiu, em 2006, a marca de 1,8
filho por mulher -cifra inferior à
taxa de reposição populacional,
que é de 2,1.
O IBGE, em sua estimativa oficial, de 2004, não previa que esse
patamar fosse atingido antes de
2043. Mesmo a ONU, que costuma fazer projeções menos conservadoras, não antecipava índices inferiores a 2,0 para o Brasil
antes de 2010.
As conseqüências do fenômeno não são triviais. Pela projeção
do IBGE, a população brasileira
só começaria a diminuir a partir
de 2062. Pelo cálculo da ONU, isso se daria na década de 2030. A
confirmar-se a tendência identificada na PNDS, o encolhimento
pode ocorrer ainda antes.
Como quase todos os grandes
movimentos demográficos, a
mudança encerra aspectos positivos e negativos. Na coluna dos
ganhos, destaca-se o fato de que
sociedades que experimentam
reduções na taxa de fecundidade
costumam vivenciar momentos
de maior prosperidade.
Na escala do indivíduo, isso se
explica porque o trabalhador
com menos filhos e idosos para
sustentar fica mais produtivo.
Mas o fenômeno ocorre também
em nível de instituições públicas.
Ele, aliás, já está acontecendo na
educação fundamental. Como o
número de crianças é decrescente e as verbas destinadas ao setor,
estáveis, aumenta a quantidade
de recursos por aluno.
É claro que, para capitalizar ao
máximo esses efeitos, são necessárias políticas de estímulo ao
emprego e de melhoria dos serviços públicos. A fase de bônus da
transição demográfica já vem
com data para acabar.
O rápido envelhecimento da
população logo produzirá significativos impactos sobre os sistemas de saúde e de previdência. É
fundamental que o Estado e as
famílias se preparem desde já.
Na saúde é necessário ir investindo na prevenção de doenças
da terceira idade bem como na
formação de gerontologistas.
Ainda mais urgente é a questão
previdenciária. A reforma insinuada no primeiro mandato de
Lula não se completou. É preciso
seguir com o esforço.
Com a diminuição da proporção de trabalhadores na ativa por
aposentados, será necessário fazer com que as pessoas contribuam por mais tempo. Não é
apenas a fecundidade que está
caindo. A expectativa de vida
também está aumentando rapidamente, tornando mais dramática a necessidade de ajustes.
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